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Pelas tramas de uma cidade migrante (Joinville, 1980-2010)

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O “pedaço” insinuou suas porosida<strong>de</strong>s por outra questão por<br />

mim observada. Houve ali <strong>uma</strong> inaudível disputa política. Estávamos,<br />

então, em processo eleitoral. Vários candidatos a prefeito e a vereador<br />

foram à festa para, quem sabe, fortificar suas bases. A Festa da<br />

Polenta, em alguns momentos daquela noite <strong>de</strong> sábado, tornou-se o<br />

centro da polêmica eleitoral urbana. Por certo, não houve quaisquer<br />

discursos e apresentações programáticas dos candidatos ali presentes.<br />

Eles se movimentavam <strong>de</strong> forma a não se esbarrarem reciprocamente<br />

nas conversas e abordagens. Nesse curioso rodízio, a reação dos<br />

moradores em festa foi diversificada e bastante marcante. Alguns<br />

recebiam os candidatos em suas mesas com alegres apertos <strong>de</strong> mão.<br />

Outros educadamente exalavam a inoportunida<strong>de</strong> <strong>de</strong> seus achegos. A<br />

maioria, porém, recebia-os com olhares glaciais e ouvidos moucos.<br />

A polêmica consistiu, em meu ponto <strong>de</strong> vista, no cruzamento dos<br />

sentidos da festa. Festejadores/eleitores interagiam com políticos/<br />

festejadores. Penso que mais importante do que saber os porquês<br />

das reações dos moradores na festa foi constatar aquilo que o<br />

historiador Norberto Luiz Guarinello caracterizou como “sentidos<br />

fluidos” da festa, tornando-a palco no qual se <strong>de</strong>frontam diferentes<br />

interpretações do viver em socieda<strong>de</strong>. Usos e abusos, conveniências<br />

e inconveniências, divertimento e trabalho, o cultural, o político, as<br />

subjetivida<strong>de</strong>s: palavras que marcavam os múltiplos sentidos naquela<br />

trama festiva.<br />

Por fim, <strong>uma</strong> última questão a tratar na Festa da Polenta:<br />

os hibridismos margeantes urbanos. A estetização étnica da festa<br />

aparentemente era simbolizada pelo objeto festivo, a polenta.<br />

Também na <strong>de</strong>coração predominavam as cores e ban<strong>de</strong>iras da Itália.<br />

O olhar estrangeiro, entretanto, facilmente i<strong>de</strong>ntificava miscelâneas<br />

semelhantes a outras observadas nas <strong>de</strong>mais festas. As candidatas<br />

a rainha trajavam vestidos que lembravam vestidos <strong>de</strong> prenda. No<br />

bufê estavam dispostas a polenta e o kless 286 . Cerveja e Coca-cola<br />

atropelavam o vinho colonial exposto no balcão <strong>de</strong> bebidas. Outros<br />

hibridismos ficaram a cargo das apresentações musicais. O conjunto<br />

contratado para animar o baile entusiasmou os participantes ao<br />

interpretar em italiano a famosa marchinha alemã conhecida como<br />

Barril <strong>de</strong> Chope, traduzida como Bottiglia di Vino.<br />

286 Espécie <strong>de</strong> nhoque feito com batata-doce e alguns temperos.

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