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Pelas tramas de uma cidade migrante (Joinville, 1980-2010)

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segundo lugar, mesmo articuladas, as duas comunida<strong>de</strong>s paroquiais<br />

faziam-se representar como diferentes por meio da festa.<br />

A minha discussão sobre diversida<strong>de</strong> e diferença ganhava com<br />

isso novos contornos. O contraste com a Festa das Tradições era<br />

gritante. A diversida<strong>de</strong> não assumia, à primeira vista, um sentido<br />

essencializado, ou <strong>uma</strong> materialida<strong>de</strong> forjada especialmente para ser<br />

espetacularizada e comercializada, embora o <strong>de</strong>sejo por ampliar e<br />

diversificar o público participante das festas do Vila Nova foi, por<br />

muitas vezes, mencionado pelas mulheres como meio para <strong>uma</strong> maior<br />

arrecadação financeira.<br />

As narrativas das mulheres exprimiam as diferenças como<br />

processo, como vivências no “pedaço”. As interlocuções igualmente<br />

<strong>de</strong>notavam alguns dos conflitos, acordos e combinações que<br />

permeavam tanto os ambientes festivos como o próprio “pedaço”. E<br />

mais, insinuavam a produção <strong>de</strong> territórios. Em outras palavras, penso<br />

que a diversida<strong>de</strong> exposta pelas falas <strong>de</strong>las expressava as vivências<br />

das diferenças no “pedaço”, visto que as interlocuções marcadas por<br />

conflitos, acordos e combinações experimentadas, no ambiente festivo<br />

e fora <strong>de</strong>le, me afastavam da i<strong>de</strong>ia <strong>de</strong> compartimentação do diverso,<br />

mas insinuavam, igualmente, a produção <strong>de</strong> territorialida<strong>de</strong>s.<br />

A Festa do Arroz po<strong>de</strong>ria ser compreendida como um lugar<br />

praticado no bairro pelas mulheres do GDMR Cristo Rei, da mesma<br />

forma que a Festa da Polenta pelo GDMR Santo Antônio. Olhando<br />

“<strong>de</strong> fora e <strong>de</strong> longe”, ambas po<strong>de</strong>riam assumir a representação do<br />

“pedaço” ou território do Vila Nova. Olhando “<strong>de</strong> perto e <strong>de</strong> <strong>de</strong>ntro”,<br />

no entanto, como lugares praticados interligados, em interação e em<br />

disputa, <strong>de</strong>monstravam-me como os dois grupos tentavam consolidar<br />

os seus próprios territórios e com eles as fronteiras que, como produtos<br />

e produtoras <strong>de</strong> sentidos, se revelavam nos mútuos enunciados<br />

comparativos e <strong>de</strong>sabonadores 285 .<br />

285 Segundo o filósofo Gilles Deleuze, “o território só vale em relação a um movimento<br />

através do qual se sai <strong>de</strong>le. [...]. A noção com pretensão nova é que não há território sem um<br />

vetor <strong>de</strong> saída do território e não há saída do território, ou seja, <strong>de</strong>sterritorialização, sem, ao<br />

mesmo tempo, um esforço para se reterritorializar em outra parte”. Isso ficou evi<strong>de</strong>nte por<br />

meio dos <strong>de</strong>slocamentos físicos e simbólicos promovidos pelas mulheres dos dois grupos.<br />

DELEUZE, Gilles. entrevista concedida a Claire Parnet. Disponível em: . Acesso em:<br />

28 jan. <strong>2010</strong>.

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