Pelas tramas de uma cidade migrante (Joinville, 1980-2010)
Pelas tramas de uma cidade migrante (Joinville, 1980-2010)
Pelas tramas de uma cidade migrante (Joinville, 1980-2010)
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Essa pequena história da ocupação do bairro foi importante para<br />
que eu estudasse a Festa do Arroz. Com pouquíssimos investimentos e<br />
instrumentos <strong>de</strong> divulgação, a festa não faz parte do calendário turístico<br />
da cida<strong>de</strong> nem das colunas <strong>de</strong> eventos dos jornais <strong>de</strong> gran<strong>de</strong> circulação.<br />
Soube da sua existência por intermédio <strong>de</strong> dois jornais: Jornal do Costa<br />
e Silva e Região e Jornal dos Bairros 277 .<br />
Empenhada em conhecer o evento, <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> superar as dificulda<strong>de</strong>s<br />
<strong>de</strong> i<strong>de</strong>ntificação e contato com seus organizadores, dirigi-me ao galpão<br />
da Igreja Cristo Rei com a finalida<strong>de</strong> <strong>de</strong> entrevistar a coor<strong>de</strong>nadora da<br />
festa <strong>de</strong> 2008, a Sra. Mareli Terezinha Filipi. Para minha surpresa e<br />
<strong>de</strong> dois outros pesquisadores 278 que me acompanhavam, lá estava nos<br />
esperando o Grupo <strong>de</strong> Desenvolvimento da Mulher Rural – GDMR<br />
– Cristo Rei.<br />
Não foi propriamente <strong>uma</strong> entrevista, embora o grupo me<br />
permitisse gravar a conversa. Aproveitando a reunião que semanalmente<br />
acontecia, a Sra. Mareli avisou às <strong>de</strong>mais sobre o nosso interesse e<br />
participação. Documentos preciosos foram previamente reunidos<br />
pelo GDMR e, naquele encontro, <strong>de</strong>talhadamente <strong>de</strong>scritos, expostos,<br />
folheados e festejados. Fotografias do grupo e <strong>de</strong> momentos da festa<br />
<strong>de</strong>s<strong>de</strong> a sua criação, 1995, provocaram lembranças e risos.<br />
Um livro-ata pouco ortodoxo narrava as reuniões das mulheres<br />
<strong>de</strong>s<strong>de</strong> 1998. O registro sobre os preparativos e a realização da festa se<br />
perdia entre os relatos <strong>de</strong> passeios, visita a órgãos públicos, participação<br />
<strong>de</strong> políticos e políticas nas reuniões, promoção <strong>de</strong> concorridos bingos<br />
no bairro, afazeres artesanais e também novida<strong>de</strong>s do “pedaço”, como<br />
nascimento <strong>de</strong> crianças.<br />
277 Em formato <strong>de</strong> minitabloi<strong>de</strong>s, tais jornais são distribuídos, gratuitamente, <strong>de</strong> porta em porta<br />
e/ou em pontos comerciais existentes nos bairros da cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> <strong>Joinville</strong>. Em raras exceções as<br />
matérias são assinadas. O conteúdo tem como característica a utilização <strong>de</strong> textos pequenos,<br />
impessoais e reportagens sobre temas diversos (com recorrência a <strong>de</strong>núncias sobre problemas<br />
<strong>de</strong> infraestrutura e violência) entremeadas a anúncios <strong>de</strong> serviços e produtos oferecidos por<br />
estabelecimentos comerciais dos bairros por on<strong>de</strong> os jornais circulam. Apresentam, ainda,<br />
informações sobre eventos e ativida<strong>de</strong>s culturais e <strong>de</strong> lazer. A Festa do Arroz, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> a sua 4.ª<br />
edição, conta com o apoio <strong>de</strong>sses órgãos <strong>de</strong> divulgação.<br />
278 Des<strong>de</strong> que iniciei a pesquisa, dois ex-alunos do curso <strong>de</strong> História da Univille envolveram-se<br />
junto comigo neste trabalho, <strong>de</strong>senvolvendo também suas dissertações <strong>de</strong> mestrado pela U<strong>de</strong>sc.<br />
Des<strong>de</strong> então, reunimo-nos semanalmente e compartilhamos nossas <strong>de</strong>scobertas sobre a cida<strong>de</strong><br />
que, a cada dia, nos fascina. A pesquisa nos arquivos e as inusitadas incursões que fiz pelos<br />
mais variados territórios urbanos não seriam possíveis sem o apoio <strong>de</strong> Diego Fin<strong>de</strong>r Machado e<br />
Fernando Cesar Sossai. As reflexões que aqui apresento são <strong>de</strong> minha inteira responsabilida<strong>de</strong>,<br />
mas tributo aos nossos encontros o que <strong>de</strong> melhor elas possam exprimir.