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Pelas tramas de uma cidade migrante (Joinville, 1980-2010)

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em Magnani i<strong>de</strong>ntificando o bairro como o “pedaço” 270 , ou seja, como<br />

o domínio intermediário entre o público e o privado, o familiar e o<br />

estranho. O “pedaço” é constituído por dois elementos básicos: um <strong>de</strong><br />

or<strong>de</strong>m espacial e outro <strong>de</strong> or<strong>de</strong>m social. O <strong>de</strong> or<strong>de</strong>m espacial abrange<br />

lugares comuns a todos, como casas <strong>de</strong> comércio, igrejas, clubes, bares,<br />

campo <strong>de</strong> futebol, postos <strong>de</strong> atendimento <strong>de</strong> serviços públicos, entre<br />

outros. São lugares triviais <strong>de</strong> encontros e <strong>de</strong> passagens obrigatórias,<br />

locais com os quais se convive por se morar perto ou por frequentá-los<br />

constantemente. Entretanto “para ser do ‘pedaço’ é preciso estar situado<br />

n<strong>uma</strong> particular re<strong>de</strong> <strong>de</strong> relações que combina laços <strong>de</strong> parentesco,<br />

vizinhança, procedência” 271 . Alg<strong>uma</strong>s categorias que são estabelecidas<br />

nessa re<strong>de</strong> <strong>de</strong> relacionamento social po<strong>de</strong>m ser i<strong>de</strong>ntificadas: “colega”,<br />

“chegado”, “irmão”, “tio” ou “tia”. Todas elas supõem relações mais<br />

próximas, personalizadas e duradouras, constituindo a base das<br />

i<strong>de</strong>ntificações pelo “pedaço”. Conforme explica o autor,<br />

Essa malha <strong>de</strong> relações assegura aquele mínimo<br />

vital e cultural que assegura a sobrevivência, e é no<br />

espaço regido por tais relações que se <strong>de</strong>senvolve<br />

a vida associativa, <strong>de</strong>sfruta-se o lazer, trocam-se<br />

informações, pratica-se a <strong>de</strong>voção. On<strong>de</strong> se tece,<br />

enfim, a trama do cotidiano 272 .<br />

Dessa perspectiva, o bairro é um pedaço ou abrange pedaços que<br />

revelam formas <strong>de</strong> apropriação, uso <strong>de</strong> espaço e ocasiões em que se<br />

está “fora <strong>de</strong> casa, mas no pedaço” 273 . Porém, se Magnani me permite<br />

i<strong>de</strong>ntificar os bairros <strong>de</strong> <strong>Joinville</strong> como pedaços, isso não quer dizer que<br />

os consi<strong>de</strong>ro espaços impermeáveis e livres <strong>de</strong> trânsitos. Entrecruzam-se<br />

ali, como no todo da cida<strong>de</strong>, os fluxos contemporâneos.<br />

Tais fluxos são claramente i<strong>de</strong>ntificáveis nas festas <strong>de</strong> bairro, seja<br />

pela forma como se apresentam, seja pela narrativa dos organizadores<br />

que se colocam como mediadores culturais. Foi por intermédio <strong>de</strong> duas<br />

270 Magnani associou a i<strong>de</strong>ia <strong>de</strong> pedaço ao bairro em seu trabalho intitulado “Festa no pedaço”,<br />

realizado em 1984. Posteriormente, suas pesquisas levaram-no a outras partes do território<br />

urbano, incluindo regiões centrais e áreas não-resi<strong>de</strong>nciais. Cf.: MAGNANI, José Guilherme<br />

Cantor. Festa no pedaço: cultura popular e lazer na cida<strong>de</strong>. 3. ed. São Paulo: Hucitec; Unesp,<br />

2003b.<br />

271 Id. Ibid. p. 115.<br />

272 Id. Ibid. p. 117.<br />

273 Id. Ibid. p. 120.

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