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Pelas tramas de uma cidade migrante (Joinville, 1980-2010)

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eleja por exclusão, mas que fortaleça a aproximação da história com a<br />

antropologia, aproximação essa em nada original, visto ser ricamente<br />

promovida no campo da História Cultural 263 .<br />

Aliás, se o historiador Guarinello me encorajou a tratar a festa<br />

como objeto histórico, o antropólogo Magnani sugeriu-me abordá-la<br />

como objeto antropológico, já que sua proposta <strong>de</strong> etnografia insta o<br />

pesquisador a olhar o urbano não “<strong>de</strong> longe e <strong>de</strong> fora”, mas “<strong>de</strong> perto e<br />

<strong>de</strong> <strong>de</strong>ntro” 264 . Como a cida<strong>de</strong>, a festa po<strong>de</strong>ria ser analisada “a partir dos<br />

arranjos dos próprios atores sociais”, ou seja, “das formas como eles se<br />

avêm” para transitar no seu espaço, usufruir suas atrações, estabelecer<br />

encontros ou mesmo <strong>de</strong>sencontros 265 .<br />

Enquanto objeto histórico, Guarinello suscita alg<strong>uma</strong>s “i<strong>de</strong>ias<br />

para pensar” 266 , que foram por mim entendidas como advertências a<br />

serem consi<strong>de</strong>radas n<strong>uma</strong> abordagem histórica da festa. Em primeiro<br />

lugar, a festa não <strong>de</strong>veria ser tratada como algo transcen<strong>de</strong>ntal, que<br />

ultrapassa os limites da experiência. Não se <strong>de</strong>veria também “tomá-la<br />

<strong>de</strong> <strong>uma</strong> perspectiva ‘evolucionista’ e linear” ou mesmo com base em<br />

tipologias rígidas, tais como festa religiosa ou profana. Propõe, então,<br />

abordá-la como manifestação do cotidiano das socieda<strong>de</strong>s h<strong>uma</strong>nas que<br />

expressa <strong>uma</strong> ação coletiva, envolvendo trabalho, custo e planejamento<br />

– conforme as “regras peculiares a cada <strong>uma</strong>” – e acontecendo,<br />

[...] num tempo e lugar <strong>de</strong>finidos e especiais,<br />

implicando a concentração <strong>de</strong> afetos e emoções em<br />

263 Como lembra Lynn Hunt, “quanto mais culturais se tornarem os estudos históricos, e quanto<br />

mais históricos se tornarem os estudos culturais, tanto melhor para ambos”. HUNT, Lynn (Org.).<br />

a nova história cultural. São Paulo: Martins Fontes, 1995. p. 29.<br />

264 MAGNANI, José Guilherme Cantor. De perto e <strong>de</strong> <strong>de</strong>ntro: notas para <strong>uma</strong> etnografia urbana.<br />

revista Brasileira <strong>de</strong> Ciências sociais, São Paulo, v. 17, n. 49, p. 11-29, jun. 2002. Disponível<br />

em: .<br />

Acesso em: 25 out. 2008.<br />

265 Para Magnani, o olhar “<strong>de</strong> longe e <strong>de</strong> fora” é um olhar “<strong>de</strong> passagem”, cujo fio condutor<br />

são as escolhas e o trajeto do próprio pesquisador. Em vez <strong>de</strong> reduplicar “discurso corrente<br />

sobre o <strong>de</strong>cantado caos urbano”, olhar “<strong>de</strong> perto e <strong>de</strong> <strong>de</strong>ntro” significa abrir-se para conhecer<br />

“arranjos, mecanismos e saídas surpreen<strong>de</strong>ntes dos atores sociais e que não são visíveis a um<br />

olhar meramente <strong>de</strong> fora. É <strong>de</strong>ssa forma que a metrópole, na sua diversida<strong>de</strong> e na sua escala<br />

e também nos seus conflitos e problemas específicos, se torna inteligível, pois esse olhar<br />

parte das experiências daqueles que nela vivem, abrindo pistas para o entendimento <strong>de</strong> sua<br />

lógica e <strong>de</strong> sua inserção em contextos mais gerais”. MAGNANI, José Guilherme Cantor. A<br />

antropologia urbana e os <strong>de</strong>safios da metrópole. revista tempo social, São Paulo, USP, v.<br />

15, n. 1, p. 81-95, abr. 2003a. p. 93.<br />

266 GUARINELLO, Norberto Luiz. Op. cit. p. 970.

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