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Pelas tramas de uma cidade migrante (Joinville, 1980-2010)

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e também “angular”, o pertencimento étnico parecia se constituir<br />

como única possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> reconhecimento e inclusão i<strong>de</strong>ntitária na<br />

propalada diversida<strong>de</strong> cultural joinvilense. Porém tal direcionamento<br />

carrega <strong>uma</strong> contradição que escapa do domínio <strong>de</strong>sses agentes: para<br />

alcançar a legitimida<strong>de</strong> coletiva que torna a diversida<strong>de</strong> cultural um<br />

valor agregado ao urbano no competitivo mercado <strong>de</strong> cida<strong>de</strong>s é preciso<br />

que ela também possua um valor simbólico para os sujeitos, seja morador<br />

ou turista.<br />

Quanto a isso, Jeudy esclareceu-me as razões pelas quais não posso<br />

consi<strong>de</strong>rar tal processo <strong>de</strong> etnicização como simples imposição que leva<br />

à repulsão ou à a<strong>de</strong>são cega dos habitantes da cida<strong>de</strong> contemporânea.<br />

Há, nessa imagem <strong>de</strong> cida<strong>de</strong> e <strong>de</strong> i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> marcada pela fixi<strong>de</strong>z étnica,<br />

trânsitos e apropriações sociais não presumidas que revelam disputas e<br />

negociações, espetacularizações e ocultamentos, afirmações e negações<br />

<strong>de</strong> passados e fluxos.<br />

Ainda baseando-me em Jeudy, as etnicida<strong>de</strong>s joinvilenses<br />

tornam-se “marcadores” culturais não com base em <strong>uma</strong> soberania<br />

que lhe seja própria. Como “índices <strong>de</strong> <strong>uma</strong> singularida<strong>de</strong> cultural<br />

mantida e exibida”, permitem, na flui<strong>de</strong>z do vivido, “resolver boa parte<br />

da violência das metamorfoses locais, regionais, urbanas” pelas quais<br />

suportam o entusiasmo coletivo diante do “prazer <strong>de</strong> reconhecimento<br />

<strong>de</strong> si mesmo naquilo que estava em vias <strong>de</strong> <strong>de</strong>saparecer” 261 .<br />

Se os fluxos migratórios estão no cerne <strong>de</strong> todo esse processo que<br />

marca a cida<strong>de</strong> contemporânea e motiva a sua espetacularização pelas<br />

festas, os <strong>migrante</strong>s (mas não só eles) são portadores <strong>de</strong> incongruências,<br />

práticas e histórias aci<strong>de</strong>ntais que são objetos <strong>de</strong> ocultamentos, mas<br />

também <strong>de</strong> negociações.<br />

O <strong>de</strong>snudamento do hibridismo na Fenachopp inspirou a<br />

sua substituta, a Festa das Tradições. Como negócio ou referência<br />

i<strong>de</strong>ntitária, foi festejada e avaliada pela sua pertinência simbólica no<br />

pavilhão da Expoville. Entretanto outros indícios me empurram para<br />

outros ambientes festivos que, à primeira vista e apenas precocemente,<br />

expressam variações <strong>de</strong>ssa estetização étnica urbana.<br />

A partir daqui, percorro caminhos cujas ruas não são<br />

completamente pavimentadas, e o trajeto – embora dificultado pela<br />

escassez <strong>de</strong> transportes, in<strong>de</strong>finição <strong>de</strong> seus pontos <strong>de</strong> paragem e chuvas<br />

continuadas – impele-me a seguir por atalhos que são conhecidos à<br />

medida que os percorro, seguindo pegadas repisadas. Tal metáfora<br />

261 JEUDY, Henri-Pierre. Op. cit. p. 28.

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