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Pelas tramas de uma cidade migrante (Joinville, 1980-2010)

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Em que medida tais práticas e gostos populares comprometiam a imagem<br />

da cida<strong>de</strong>, mercadoria <strong>de</strong> “lazer e turismo” que se objetivava ven<strong>de</strong>r pelos<br />

seus atributos encantatórios?<br />

A socióloga Fernanda Sánchez, ao discutir a reinvenção das cida<strong>de</strong>s<br />

na virada do século XX para o XXI, lembra que “representar a totalida<strong>de</strong>,<br />

o todo social, implica po<strong>de</strong>r: implica construção <strong>de</strong> hegemonia, capacida<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> convencimento, criação <strong>de</strong> consenso”. Os atores que participam do<br />

campo político <strong>de</strong> construção das imagens-cida<strong>de</strong> esforçam-se para tornar<br />

dominantes as imagens que produzem, utilizando “estratégias discursivas,<br />

meios e instrumentos para sua difusão e legitimação em variadas escalas” 227 .<br />

Porém, explica a autora, nesse campo político há relações <strong>de</strong> força também<br />

escalares (local-global) que inci<strong>de</strong>m sobre as escolhas econômicas e<br />

simbólicas, capazes <strong>de</strong> produzir “imagens fortes” que são utilizadas como<br />

city marketing.<br />

Afirmando existir, a partir da década <strong>de</strong> 1990, um “mercado mundial<br />

<strong>de</strong> cida<strong>de</strong>s”, indica que este é movido e movimenta outros mercados,<br />

entre eles o turístico. A reinvenção <strong>de</strong> cida<strong>de</strong>s a que estaríamos assistindo<br />

promove assim a sua espetacularização e molda as representações acerca<br />

<strong>de</strong> sua transformação.<br />

Diante disso, penso que as razões que movem os vínculos entre o<br />

po<strong>de</strong>r político (e econômico) e a cultura se ligam às possibilida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> inserir<br />

representações culturais nos projetos da cida<strong>de</strong> que se <strong>de</strong>seja. No “mercado<br />

mundial <strong>de</strong> cida<strong>de</strong>s”, é preciso que se construa <strong>uma</strong> auto<strong>de</strong>finição <strong>de</strong> cida<strong>de</strong><br />

incluindo ou <strong>de</strong>squalificando sentidos <strong>de</strong> pertencimento urbano. Nessa<br />

operação binária, os hibridismos que coexistem em diferentes espaços, caso<br />

não concorram à imagem-cida<strong>de</strong> que se <strong>de</strong>seja, <strong>de</strong>vem ser <strong>de</strong>purados.<br />

Isso contribui para o entendimento <strong>de</strong> como a <strong>Joinville</strong> cida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

“lazer e turismo” passará a ser <strong>de</strong>fendida pelos agentes políticos e por<br />

empresários ligados ao ramo <strong>de</strong> entretenimento e hospitalida<strong>de</strong>. A imagemcida<strong>de</strong><br />

que se constrói exorta a diversida<strong>de</strong> étnica e o cultivo às tradições<br />

que supostamente advém <strong>de</strong>la. Tal imagem ainda é projetada a ter força o<br />

suficiente para encantar os diferentes consumidores da cida<strong>de</strong>, sejam eles<br />

moradores ou não. A pujança econômica, o prazer <strong>de</strong> habitar, o conhecer<br />

ou o se reconhecer nesse processo <strong>de</strong> reinvenção atuam como elementos<br />

<strong>de</strong> benefícios genéricos no competitivo mercado <strong>de</strong> cida<strong>de</strong>s que são<br />

reinventadas sob o ímpeto da globalização.<br />

227 SÁNCHEZ, Fernanda. A reinvenção das cida<strong>de</strong>s na virada do século: agentes, estratégias<br />

e escalas <strong>de</strong> ação política. revista <strong>de</strong> sociologia Política, Curitiba, n. 16, p. 31-49, jun.<br />

2001. p. 31.

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