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Pelas tramas de uma cidade migrante (Joinville, 1980-2010)

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outras barracas comercializando variadas quinquilharias. O comensal<br />

rapidamente era servido e com os alimentos na mão passava a “dar <strong>uma</strong><br />

olhadinha” nas barracas que vendiam panos <strong>de</strong> prato pintados a mão,<br />

chocolates caseiros e outros artesanatos, misturados com CDs, DVDs<br />

e luminosos brinquedinhos feitos na China.<br />

Ao observar as pessoas na ala gastronômica, percebia que se<br />

alimentar na Festa das Tradições se assemelhava ao ato <strong>de</strong> comer<br />

cotidianamente pela cida<strong>de</strong> e em vários pontos <strong>de</strong>la, ou seja, era <strong>uma</strong><br />

ativida<strong>de</strong> multissensorial intensa, premida pelo tempo. O comensal<br />

festivo podia ingerir alimentos, mirar objetos tateando bolsas e bolsos<br />

em busca <strong>de</strong> tradilhos e cheirar aromas variados ao som <strong>de</strong> bandas<br />

que se revezavam mediante escalas e estilos voltados à satisfação das<br />

mais diversificadas preferências musicais. Funcionalida<strong>de</strong> e mobilida<strong>de</strong>,<br />

o fast-food festivo respondia à necessária agilida<strong>de</strong>, tanto <strong>de</strong> preparo<br />

quanto <strong>de</strong> ingestão dos alimentos, para que as pessoas pu<strong>de</strong>ssem<br />

<strong>de</strong>slocar-se no tempo-espaço da “tradição em festa”.<br />

Analisando o fast-food, o antropólogo Renato Ortiz afirma:<br />

[...] quando McDonald’s “migra” para outros<br />

países, não <strong>de</strong>vemos compreendê-lo como um<br />

“traço cultural” que se impõe à revelia dos<br />

valores autóctones. Ele exprime a face interna<br />

da mo<strong>de</strong>rnida<strong>de</strong>-mundo. Na verda<strong>de</strong>, o conteúdo<br />

da fórmula fast-food – hambúrguer, salada, pizza,<br />

taco, sanduíche – é arbitrário. McDonald’s e<br />

Brioche Dorée possuem o mesmo sentido social.<br />

Pouco importa se esta última se volte para venda<br />

<strong>de</strong> croissants e <strong>de</strong> tortas. A tradição que se evoca<br />

tem apenas um valor simbólico 213 .<br />

Não teria sido na festa, portanto, que a comida típica ou “tradicional”<br />

fora atropelada. As mudanças advindas tanto das transnacionalizações<br />

da indústria e dos serviços alimentares como dos novos hábitos dos<br />

comensais urbanos, os quais instigados pela compressão do tempoespaço<br />

mudaram gostos, condutas e costumes na cozinha e no ato social<br />

<strong>de</strong> comer, repercutiam na forma e no conteúdo da comensalida<strong>de</strong> festiva.<br />

Alimentos <strong>de</strong>sterritorializados pu<strong>de</strong>ram simbolicamente ser evocados<br />

em favor do típico e do local. Tal processo <strong>de</strong> produção local da<br />

globalização, eivado por hibridismos em fluxo, <strong>de</strong>monstravam-me as<br />

213 ORTIZ, Renato. mundialização e cultura. 3. reimpr. São Paulo: Brasiliense, 1998. p. 86.

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