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Pelas tramas de uma cidade migrante (Joinville, 1980-2010)

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<strong>de</strong>safiam o nosso olhar sobre os intercâmbios que, embora assimétricos,<br />

misturam o culto, o popular e o massivo naquilo que <strong>de</strong>nomina cultura<br />

urbana contemporânea.<br />

Tal discussão ganhou importância quando retomei meus registros<br />

sobre a área gastronômica da Festa das Tradições. Alguns hibridismos<br />

se insinuavam não apenas pelas fotografias das barracas e informações<br />

recolhidas no cardápio disponível naquela ocasião, mas também pelo<br />

acionamento <strong>de</strong> minha memória olfativa e visual. Aromas mesclados e<br />

comensais ansiosos ganharam <strong>de</strong>staque nas minhas lembranças e, com<br />

isso, tornaram-se o ponto <strong>de</strong> partida da <strong>de</strong>scrição que aqui faço.<br />

De acordo com o historiador Carlos Roberto Antunes dos Santos,<br />

“alimentar-se é um ato nutricional, comer é um ato social” e, como tal,<br />

envolve atitu<strong>de</strong>s relacionadas “aos usos, costumes, protocolos, condutas<br />

e situações” <strong>de</strong> <strong>de</strong>terminada época. Sugere ao pesquisador que atente<br />

para o fato <strong>de</strong> que “o que se come é tão importante quanto quando<br />

se come, on<strong>de</strong> se come, como se come e com quem se come” 210 , pois<br />

não há neutralida<strong>de</strong> e inexistência <strong>de</strong> historicida<strong>de</strong> nas sensibilida<strong>de</strong>s<br />

gastronômicas tampouco nos alimentos que entram pela nossa boca.<br />

Para <strong>de</strong>gustar as “<strong>de</strong>lícias culinárias”, dispostas por etnias na<br />

Festa das Tradições, era preciso que, antes, o comensal se inserisse<br />

no mundo financeiro próprio da festa, trocando seus reais por <strong>uma</strong><br />

moeda peculiar: o tradilho. Embora divulgada como facilitadora<br />

para a comercialização <strong>de</strong> produtos e atrações, a moeda <strong>de</strong>veria ser<br />

trocada num guichê – <strong>de</strong>nominado banco – que exibia <strong>uma</strong> longa fila,<br />

comprometendo humores e a esperada sustentabilida<strong>de</strong> da festa. Por falta<br />

<strong>de</strong> patrocinadores, o tradilho foi criado nessa segunda edição para cobrir<br />

<strong>de</strong>spesas que seriam insolúveis. Eram retidas 10% das vendas a título<br />

<strong>de</strong> comissão. Com esse mecanismo ficava salvaguardado o controle<br />

sobre o montante captado com as vendas. A longa fila fez com que eu<br />

<strong>de</strong>sistisse <strong>de</strong> me tornar mais <strong>uma</strong> comensal naquela pequena multidão<br />

faminta. No entanto procurei conhecer as opções que as várias barracas<br />

ofereciam na forma <strong>de</strong> “encontro gastronômico das etnias” e também<br />

o jeito como as pessoas ingeriam os alimentos.<br />

Na barraca árabe, quibes fritos n<strong>uma</strong> estufa pareciam não atrair os<br />

paladares, pois lá estava um balconista <strong>de</strong> braços cruzados, <strong>de</strong> turbante,<br />

210 SANTOS, Carlos Roberto Antunes dos. A alimentação e seu lugar na história: os tempos<br />

da memória gustativa. História: Questões & <strong>de</strong>bates, Curitiba, UFPR, n. 42, p. 11-31, 2005.<br />

p. 13.

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