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Pelas tramas de uma cidade migrante (Joinville, 1980-2010)

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termo comunida<strong>de</strong> para representar a massa indistinta da população<br />

urbana. Isso me levou à questão <strong>de</strong> como o po<strong>de</strong>r político, sob o<br />

postulado da tolerância liberal, conduz suas preocupações com o direito<br />

<strong>de</strong> reconhecimento histórico e cultural dos diferentes.<br />

Seguindo as pistas <strong>de</strong> Ba<strong>uma</strong>n, é possível afirmar que o direito ao<br />

reconhecimento público das i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong>s por escolha é manejado como<br />

força essencialmente conservadora: “seu efeito é <strong>uma</strong> transformação<br />

das <strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong>s incapazes <strong>de</strong> obter aceitação pública em ‘diferenças<br />

culturais’ – coisa a ser louvada e obe<strong>de</strong>cida”. A beleza estética da<br />

diversida<strong>de</strong> cultural teria como função, então, encobrir a “fealda<strong>de</strong><br />

moral da privação” vivenciada pelos diferentes 206 . Comunida<strong>de</strong> aí é<br />

concebida como locus <strong>de</strong> afirmação das i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong>s culturais para<br />

aqueles que têm <strong>de</strong> aceitar a tarefa <strong>de</strong> escolhê-las.<br />

Disten<strong>de</strong>ndo a explicação do autor, penso que, ao evocar a<br />

possível contribuição da Festa das Tradições para o bem da comunida<strong>de</strong><br />

joinvilense e <strong>de</strong>pois para os turistas, o Sr. Wilmar acredita que o evento<br />

po<strong>de</strong>ria ser <strong>uma</strong> resposta combativa às premissas que ameaçavam a<br />

existência coletiva da urbe. Ao fortalecer a i<strong>de</strong>ia <strong>de</strong> diversida<strong>de</strong> cultural e<br />

<strong>de</strong> tradições, pensa o entrevistado fortalecer a i<strong>de</strong>ia <strong>de</strong> <strong>uma</strong> comunida<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong>s – se assim posso <strong>de</strong>finir – capaz <strong>de</strong> proporcionar também<br />

ao po<strong>de</strong>r público um alento <strong>de</strong> segurança e po<strong>de</strong>r diante <strong>de</strong> um presente<br />

fugidio e <strong>de</strong> um futuro que lhe surgia duvidoso. Sua voz é um eco,<br />

um ruído já em repetência <strong>de</strong>s<strong>de</strong> anos anteriores à promoção da festa,<br />

i<strong>de</strong>ntificável nas palavras a seguir:<br />

206 BAUMAN, Zygmunt. Op. cit. p. 98.<br />

Tempo houve em que tínhamos <strong>uma</strong> alma. Um rosto<br />

também. Mais que <strong>uma</strong> geografia, um espírito.<br />

O espírito do lugar. Foram tempos passados, e<br />

não distantes. Tínhamos i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong>. Sabíamos,<br />

portanto, o que éramos. [...] Depois, nos <strong>de</strong>ixamos<br />

barbarizar pela mo<strong>de</strong>rnida<strong>de</strong>. Agora já somos<br />

antigos. Precocemente envelhecidos pelo niilismo<br />

da novida<strong>de</strong>. Per<strong>de</strong>mos o sentido da história [...].<br />

Precisamos, com urgência, <strong>de</strong> um projeto coletivo.<br />

A ponte para o futuro, inapelavelmente, passa pela<br />

reinstauração do sentimento <strong>de</strong> respeito e orgulho<br />

pela nossa cida<strong>de</strong>. [...] O tempo nosso, <strong>de</strong> hoje,<br />

nos impõe o resgate <strong>de</strong> nossa i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong>. <strong>Joinville</strong><br />

precisa pensar num projeto <strong>de</strong> auto-apropriação.

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