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Pelas tramas de uma cidade migrante (Joinville, 1980-2010)

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107<br />

Nessa “dura realida<strong>de</strong>”, estamos expostos às forças <strong>de</strong> mudanças<br />

da mesma forma que a bolsa <strong>de</strong> valores, os mercados financeiros, a<br />

tecnologia e os movimentos migratórios. As nossas experiências <strong>de</strong> vida<br />

eternamente mutantes, contudo, são o principal manancial por meio<br />

do qual po<strong>de</strong>mos livremente atribuir sentidos e valores aos termos<br />

comunida<strong>de</strong> e i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong>. Como diz Ba<strong>uma</strong>n, “cada <strong>uma</strong> <strong>de</strong>las po<strong>de</strong><br />

ser livremente imaginada, sem medo do teste da prática, como abrigo<br />

<strong>de</strong> segurança e confiança e, por essa razão, <strong>de</strong>sejada com ardor”. É<br />

por isso que, na contemporaneida<strong>de</strong>, a questão da i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> trai a sua<br />

origem, ou seja, a <strong>de</strong> ser “apenas um substituto” da comunida<strong>de</strong>: “Ela<br />

precisa invocar o fantasma da mesmíssima comunida<strong>de</strong> a que <strong>de</strong>ve<br />

substituir. A i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> brota entre os túmulos das comunida<strong>de</strong>s, mas<br />

floresce graças à promessa da ressurreição dos mortos” 203 .<br />

A reflexão <strong>de</strong>sse sociólogo contribuiu para que eu enten<strong>de</strong>sse<br />

os sentidos do termo comunida<strong>de</strong> usado pelo nosso entrevistado, sem<br />

recorrer à constatação <strong>de</strong> que tal uso fosse <strong>de</strong>spropositado do ponto <strong>de</strong><br />

vista histórico e cultural. A leitura dos textos <strong>de</strong> Ba<strong>uma</strong>n mostrou-me<br />

que o tom nostálgico e <strong>de</strong> <strong>de</strong>sapontamento do Sr. Alberto Hol<strong>de</strong>regger,<br />

no julgamento das festivida<strong>de</strong>s da <strong>Joinville</strong> contemporânea, se liga à<br />

própria cida<strong>de</strong> contemporânea e às percepções e <strong>de</strong>sejos que também<br />

a povoam. As cida<strong>de</strong>s po<strong>de</strong>m estar fisicamente cheias e, no entanto,<br />

assustam e repelem os moradores pelos seus vazios imaginados. Lugar<br />

on<strong>de</strong> “ninguém testemunha a vida <strong>de</strong> ninguém” 204 , as festas, como todo<br />

o resto, não constituiriam momentos <strong>de</strong> familiarização para aqueles<br />

ávidos por comunida<strong>de</strong> e i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong>.<br />

Em segundo lugar, o pensamento <strong>de</strong> Ba<strong>uma</strong>n também me auxiliou<br />

no entendimento sobre o uso do termo comunida<strong>de</strong> na narrativa do Sr.<br />

Wilmar <strong>de</strong> Souza. Num tom pragmático, o entrevistado nos informou<br />

que, ao promover a Festa das Tradições, o “po<strong>de</strong>r público está pensando<br />

em toda a comunida<strong>de</strong>. A lucrativida<strong>de</strong> <strong>de</strong> <strong>uma</strong> festa não está em voga,<br />

dando para pagar as contas, está ótimo [...]. Porque se ela, festa, se ela<br />

fosse boa para a comunida<strong>de</strong>, seria boa para o turista” 205 .<br />

Esse <strong>migrante</strong>, que quando inquirido sobre a sua origem nos<br />

respon<strong>de</strong>u que era <strong>de</strong> on<strong>de</strong> as pessoas quisessem que ele fosse, dada<br />

a sua “importância” na condução <strong>de</strong> políticas governamentais, usou o<br />

203 BAUMAN, Zygmunt. Op. cit. p. 20.<br />

204 Id. Ibid. p. 46.<br />

205 SOUZA, Wilmar <strong>de</strong>. Op. cit.

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