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Pelas tramas de uma cidade migrante (Joinville, 1980-2010)

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a cida<strong>de</strong> tinha “a cara alemã”. Afinal, eram “festas da comunida<strong>de</strong>”,<br />

festas boas. Quando começou a aumentar a população, as festas<br />

viraram mais “exposições do que pontos <strong>de</strong> encontro” 195 .<br />

Filho <strong>de</strong> um i<strong>migrante</strong> suíço, seu pai saiu <strong>de</strong> <strong>Joinville</strong> para se<br />

estabelecer, por alguns anos, em Brusque, on<strong>de</strong> fundou com mais<br />

um sócio a empresa Consul. O Sr. Hol<strong>de</strong>regger contou-nos que tal<br />

empresa foi <strong>de</strong>pois incorporada por outros agentes econômicos, sem a<br />

<strong>de</strong>vida recompensa – simbólica e material – para a sua família. Ainda<br />

na infância, retornou para <strong>Joinville</strong>. Sobre a cida<strong>de</strong> naqueles tempos,<br />

confessa que era melhor. As crianças tinham <strong>de</strong> inventar brinca<strong>de</strong>iras,<br />

e os jovens precisavam trabalhar. Atualmente, “a criança nasce e <strong>de</strong>ita<br />

na frente a <strong>uma</strong> televisão. Quando fala alg<strong>uma</strong> coisa você manda ela<br />

calar a boca. [...] A evolução ajudou, veio a ajudar, mas prejudicou<br />

no outro lado” 196 .<br />

Para o entrevistado, se havia um tempo em que as festas<br />

faziam parte <strong>de</strong> um universo <strong>de</strong> expectativa <strong>de</strong> encontros e <strong>de</strong><br />

diversão comunitários, no seu tempo presente isso foi perdido. Na<br />

“cara” <strong>de</strong>sfigurada da cida<strong>de</strong>, as festas teriam se tornado momentos<br />

imprevisíveis <strong>de</strong> esbarrões com estranhos, locais <strong>de</strong> exibição <strong>de</strong><br />

produtos, situações não <strong>de</strong> convivência, mas <strong>de</strong> ajuntamento <strong>de</strong><br />

indivíduos, áreas <strong>de</strong> passagem, <strong>de</strong> compras e não <strong>de</strong> paragens. No<br />

passado, as festas eram triviais porque eram próprias da comunida<strong>de</strong><br />

(cida<strong>de</strong>). Na sua narrativa, com o aumento da população acabaram-se<br />

aquelas festas, acabou a comunida<strong>de</strong>.<br />

Segundo o sociólogo Zygmunt Ba<strong>uma</strong>n, a palavra comunida<strong>de</strong><br />

evoca tudo aquilo <strong>de</strong> que sentimos falta e <strong>de</strong> que precisamos para<br />

viver seguros e confiantes 197 . Como antítese da “dura realida<strong>de</strong>”, a<br />

comunida<strong>de</strong> que imaginamos produz <strong>uma</strong> “sensação <strong>de</strong> aconchego”<br />

e não comporta aquilo que <strong>de</strong>la brota: a perda da liberda<strong>de</strong>, “também<br />

chamada ‘autonomia’, ‘direito à auto-afirmação’ e ‘à i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong>’” 198 .<br />

Quanto mais se fala em comunida<strong>de</strong>, mais utópica ela se torna.<br />

Imaginada como reino da coletivida<strong>de</strong>, as sensações <strong>de</strong> sua ausência<br />

ou perecimento na contemporaneida<strong>de</strong> incumbem os indivíduos <strong>de</strong><br />

buscar e estabelecer suas próprias i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong>s. Segundo o autor:<br />

195 HOLDEREGGER, Alberto. Op. cit.<br />

196 Id. Ibid.<br />

197 BAUMAN, Zygmunt. Op. cit. p. 9.<br />

198 Id. Ibid. p. 10.

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