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Pelas tramas de uma cidade migrante (Joinville, 1980-2010)

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são oriundas do interior. Pessoas que <strong>de</strong> alg<strong>uma</strong> forma já lidaram com<br />

cavalos e reses”. O ro<strong>de</strong>io crioulo seria, então, “<strong>uma</strong> oportunida<strong>de</strong> para<br />

essas pessoas matarem um pouco <strong>de</strong> sauda<strong>de</strong>s dos tempos <strong>de</strong> lida no<br />

campo” 186 .<br />

O sucesso <strong>de</strong>sses “acontecimentos tradicionais” gauchescos<br />

foi, por outro lado, acompanhado por ataques bastante agressivos. O<br />

jornalista Fernando Tokarski atribuía à mídia o papel <strong>de</strong> massificar a<br />

“cultura gauchesca”, especialmente no norte do Estado. Segundo seu<br />

diagnóstico, essa “intromissão cultural”, baseada em manifestações<br />

bastante falseadas, estaria alimentando o <strong>de</strong>sprezo e a suplantação das<br />

tradições, do folclore e dos costumes trazidos pelos i<strong>migrante</strong>s europeus<br />

e, ainda, minando o “ecletismo cultural formado a partir da diversida<strong>de</strong><br />

étnica colonizadora” 187 . Ou seja, na opinião do jornalista, com esses<br />

novos comportamentos sociais se intensificava a auto<strong>de</strong>struição do<br />

patrimônio cultural catarinense.<br />

A resposta não tardou. De Florianópolis, o jornalista Homero<br />

M. Franco 188 esclarecia ao colega, o qual consi<strong>de</strong>rou “ignorante”, que<br />

o gauchismo era um movimento cultural que advinha do cal<strong>de</strong>amento<br />

<strong>de</strong> “autênticas” raízes regionais sulistas e que, por isso, ao contrário<br />

<strong>de</strong> <strong>de</strong>struir, estava conseguindo “vencer a guerra contra a intromissão<br />

cultural estrangeira”, americanizada e consumista.<br />

Embora tais posicionamentos instruam sobre causa e consequência<br />

da expansão do tradicionalismo gaúcho em <strong>Joinville</strong> – baseando-se em<br />

necessida<strong>de</strong>s nostálgicas, movimentos midiáticos ou mesmo reação<br />

cultural anti-imperialista –, é preciso não per<strong>de</strong>r <strong>de</strong> vista a complexida<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong>sse processo.<br />

O historiador Luiz Felipe Falcão estudou a historicida<strong>de</strong> do<br />

gauchismo catarinense a partir da problemática do i<strong>de</strong>ário separatista,<br />

particularmente o emergente em princípios da década <strong>de</strong> 1990. Segundo<br />

ele, o fenômeno relaciona-se aos <strong>de</strong>sejos dos indivíduos <strong>de</strong>:<br />

[...] buscar lazer, convivência, re<strong>de</strong>finição <strong>de</strong><br />

i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> ou mesmo orientação para a existência<br />

186 JOINVILLE realiza um dos principais ro<strong>de</strong>ios crioulos <strong>de</strong> Santa Catarina. Jornal extra,<br />

<strong>Joinville</strong>, p. 9, 9 ago. 1981.<br />

187 TOKARSKI, Fernando. Aculturação catarinense. a notícia, <strong>Joinville</strong>, 9 maio 1993. Anexo,<br />

p. 3.<br />

188 FRANCO, Homero M. A “intromissão” cultural em SC. a notícia, <strong>Joinville</strong>, 23 maio<br />

1993. Anexo, p. 2.

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