1 - Nosso Tempo Digital

Noo Fbz do lguacu,
teITflpO de 03 a 10 de Dezembro de 1980
Acendiam cigarros e apagavam dentro do meu ouvido.
A 4 de novembro ilti- dava uma paricada. Eram deprimenie do tratamento Ojornal Nosso
ma o delegado adjunto da uns 4 ou 5 que me bat/am e carcerário. Os presos quei-
Subdivisào Policial de Foz diziam A Policia vai Ihe xarn-seda comida:
Tempo, ao invés de
do lguacu, Raimundo tirar o couro. Se eu näo —Uma bóia terrivel identificar
Nonato Siqueira, encami- assinasse a documento on- Näo dá para ser humano' crimes, pensou em
nhou ao iuiz da Vara de estavam meus corner. Somenteduasretel- investigarprimeiro
Criminal,. João Kopytowski, depoimentos, näo sei se cöespordia. o comportamento
urn relatório da investiga- näo teriam me matado Não ha cama Para tocâo
em que a Sr. Hercilio mesmo. Os homens dos. A maloria dorme sabre dos órgãos policiais
Cardoso., vulgo "Tio estavam furiosos mesmo. urn colchäo ou urn cobertor encarre9ados da
Grandâo", 53 arios, taxista, Pareciam animals. Poxa!, no piso trio. Na época do repressao e
(I)
estava sendo acusado de eu tenho 54 anos. tenho verão 0 calor é causticante. prevenção ao crime.
seviciar criancas no Aero- lam//ia, nunca f/z ma! a Eles so podem receber VSH
Como era certo
0
Porto Internacional e proxi- n/n guem. Eu tentava tas aos sábados. Aparelhos
midades.
explicar, e eles, cada vez de sam e TV foram tirados que as informaçoes
AprisãoeosprimeiroS mais pancada. Diziam: de seu usa Alguns tinharn pretendidas nao
interrogatôrios foram —Eu quero de f*dê a vida. radios. seriam
realizados pela Policia Quanta ma/s eu fa/ava, —Se alguém ligava a entregues pelos
Federal, apesar de uma ma/s me batiam. Entäo naite, a carcereiro tome va e próprios policiais,
atribuicao dessa ordem ser fique/ quieto, nâo falet mais quebrava all mesmo no piso
ou levava e náo devolvia a reportagem foi
C)
da cornpetência da Policia nada e deixe/ baterem.
Civil.
Assinei corn as mao reben- Dizem ainda que so consultar os presos
As declaraçOes dos tadas, rnas estou corn a tern permissão Para carni- da Delegaçao de
denunciantes, das criancas consciéncia tranquila nhar e tamar sal no patio
(I)
Policia Civil de
envolvidas e de testemu- As lágrirnas rolam pelo urna vez por semana. Nào Foz do lguaçu
Cl)
nhas parecem conduzir a rasta de Cardoso. Ele canta praticarn ginástica: fazern
artesanato, léem revistas e sobre o tratamento
incriminmaçào de "Tio que o prenderarn, a
Grandäo". Mas as laudos jagaram dentro da jornais, jagarn baralho Para quelhese
medicos dos Orgãos camioneta aos bofetOes passar o tempo. Se relacio- dispensado desde
genitais das meninas que Seu rasto sangrou. Cheganarn bern entre eles. Os que
teriam sido seviciadas nada ram ao rio Tamanduá, fize- sanitários, acusam as
são presos ate que
acusam sobre a ocorréncia ram-no descer, lavar as iou- presos, estão horriveis.
0 —Se a/guém fe/a a cumprem a pena.
de violentacôes. Par outro pas sujas de sangue e o
noite, no dia seguinte a car-
0
ado, o depoimento de "Tic amarraram a uma pedra ate
evidente que
Grandäo" a Policia Federal que a roupa secasse. cereiro encosta todo mundo O relato que
Z
também traz uma confissäo Chegando 'a cidade ainda na parede e desce paulada. segue não pode
de culpa do acusado. levaram-no a urna farmácia Os carcereiros disse-
w
ram que sO estão presas servir para
Ate al tudo bern. Para fazer urn curativo no
rneia dUzia de rnulhres e caracterizar todos
Cl)
Mas as coisas pare rosta.
cern mudar completamente Conta Cardoso que que estas ajudarn na tim- os policiais de Foz
de ligura quando Hercilia por vàrias vezes implorou peza. Estäa là, Segundo do lguaçu.
Cardoso acusa ter sido Para que näo Ihe maltratas- eles, par vadiagern, prostituiçäo.,.
Os hornens presos. 0 assassinato
vitirna da mais bestial sern antes de apurar a ver-
porérn, pediarn Para que os do
agresso par parte dos dade.
agentes da Policia Federal —Eu dizia que se de repOrteres fossem visitar as funcionário do
desde a momenta em que fato fosse cu/pado, eles pa- mulhres presas. Circo Garcia,
entrou na viatura policial no deriam ate mater-me. Mas —Väo là ver coma cometido
aeroporto.
eles me levararn là embaixo elas estào todas
rebentadas de tanta por três torturadores
--A socos e pauladas me (no porao da DPF) para me
levaram ate a Pa/ic/a Fe- bater. Quando va/tel pra pancada.
nas celas da
deral. La con finuararn me c/ma sOonsegu/a arrastar Os guardas Divisâo de Policia
bater corn palrnatOria e pau- as pernas. Doia todo a car- despistararn e as mulhres Federal, em 18
ladas. Os agentes acenpa. Ainda hole quase näo naa puderam ser visitadas. de novembro Ultimo,
diem cigarros e apagavam posse f/car deitado porque Estariam elas somente
"ajudando na lirnpeza?" desmascarou tudo.
eles dentro do meu ouvido. me dOi uma coste/a. E1a
Eu implorava para que deve ester quebrada, mas Dizern ainda que Agora sabese que a
parassem, e as homens não me levam ao medico." chove dentra das celas. tortura não é
continuavam. Não teve Insistindo em sua Reclamam do pessoal da ocasional, mas
outra saida e assinei o de- inocéncia, "Tio Grando" Furtos e Roubos. sistemática,
poimento corn a mao incha- preocupa-se agora corn as —Aquele pessoal ë
ternive/. Esses dias fizeram
Co iist ante,
da devido aos go/pes de consequéncias disso tudo.
palmatOria. Quern mandava —Jâ pensou? Coma O urn cara con lessen urn impiedosa.
dater era o de/egado que you encarar urn amigo roubo que e/e nào tinha Claro, cada um
Bocamino.
meu depois que sair daqui? fe/to.
procura so dizer
• 'Tic Grandäo", corn a Tudo isso por cu/pa de Ao lado, a rapaz confir- O que lhe interessa.
voz embargada, mostra as ca!Onias/. E pensar que ma:
—Me quebraram duas Nem tudo o que
costas, pernas e outras par- tudo isso aconteceu sO
tes do corpo cam claris- porque uma vizinha minha, caste/as e, para e/es nao os detentos contam
clarIssimos sinais de vio- que tinha bronca de mirn me mata, eu disse que fui em
lentas agressôes.
fez fa/sas denüncias... eu, mas näo fui
suas versôes dos
- az bO dies gue Näo é so "Tic Gran- Outra preso canta del itos de que são
estou preso aqui e ainda dão" que tern esses sobre uma aventura
amorosa que resultou em 3 acusados será
sinto dores em muitas par- horrores Para cantar. Urn
anas de cadeia.
verdade. Mas
tes do corpo onde me be- funcionàrio da Rodoviária
i'eram.
local conta caisas do arco —Realmente, e isso não importa. 0
"Tio Grandâo" julga da vetha.
tnansei corn ela, mas é urna que vale nesta
que, entre outras coisas, —Já cansei de ver puta conhecida da Pc/ic/a e matéria 6 relato de
teve vàrias costelas fratu- guardas pegarem a/gum de todo rnundo. Mas acontece
que ela foi ao Juiz e me brutais tort uras que
radas.
suspeito ou a/gum
acusou de ten desvirginado faz urn grande
—Quando sal da Pci/cia bagunceiro na Rodoviá n/a,
Federal para vir a Pa/ic/a Ievam-no para urn banheiro ela. Urn exame provou que nUmero dos presos
Civil, as agentes me diziam estreito e imurido e a eta ë puta ye/ha, mas a juiz mostrando inclusive
que eu v/na para cá, onde a enchem . de pau/ada a/i me condenou. Eu transei lesöes corpora is.
policia term/nan/a de me mesmo. E uma barbaridade. numa boa corn ela, näo na
ratar. Cada urn que Exciama horripilado. marra. Agora eu estou aqu/
assava perto do banco Não é so a castigo da tar- condenado a 3 anos e 4
de eu estava sentado me tura que campOe o quadra
meses e e/a continua nas
Os agentes diziam que a policia iria terminar de me matar