UMBANDA EM GOIÂNIA - Faculdade de História - UFG
UMBANDA EM GOIÂNIA - Faculdade de História - UFG
UMBANDA EM GOIÂNIA - Faculdade de História - UFG
You also want an ePaper? Increase the reach of your titles
YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.
número <strong>de</strong> casas. Em 1973 ele quis “levar a procissão para a rua” e propôs<br />
como trajeto irem da Praça do Trabalhador à Praça Cívica. (...) A Avenida<br />
Goiás é uma das maiores e mais movimentadas da Região Central <strong>de</strong> Goiânia.<br />
Essa avenida liga a Praça do Trabalhador à Praça Cívica, que constituiu o<br />
trajeto percorrido pela procissão dos pretos velhos. A procissão aconteceu<br />
todos os anos até 1991 [na verda<strong>de</strong> até 1993], contando com uma gran<strong>de</strong><br />
a<strong>de</strong>são da comunida<strong>de</strong>-<strong>de</strong>-santo. No período em que foi realizada, teve apoio<br />
do Senhor Sebastião Peixoto, então diretor administrativo da Comurg e<br />
umbandista. Segundo o relato do Pai Luis Fernando, começaram a ocorrer<br />
problemas no trajeto <strong>de</strong> volta da procissão da Praça Cívica à Praça do<br />
Trabalhador, on<strong>de</strong>, no horário em que a procissão retornava, concentrava-se<br />
um gran<strong>de</strong> número <strong>de</strong> pessoas que saiam do trabalho e se manifestavam <strong>de</strong><br />
forma contrária à procissão. Com o tempo os problemas e os constrangimentos<br />
se intensificaram e a Fe<strong>de</strong>ração <strong>de</strong>cidiu voltar a procissão para a sua se<strong>de</strong><br />
(RICARDO, 2007, p. 18-19).<br />
Segundo o próprio Sr. Luís, o preconceito da população e a falta <strong>de</strong> estrutura e<br />
<strong>de</strong> recursos por parte da Fe<strong>de</strong>ração, acabaram inviabilizando a realização da festa, como<br />
ele mesmo afirma em entrevista concedida a Eliesse Scaramal:<br />
Sr. Luís: (...) Depois <strong>de</strong> setenta e dois veio o Edson Luis, que também <strong>de</strong>u uma<br />
força muito gran<strong>de</strong>, que ele criou, através <strong>de</strong>ssa expressão, a chamada<br />
procissão dos Pretos Velhos. (...) Ela era... naquela época nós tínhamos uma<br />
manifestação, mais <strong>de</strong> duas, três mil pessoas, simpatizante e praticantes, né.<br />
(...) Tanto Umbanda, Candomblé, todos, nós precisávamos e fazíamos o treze<br />
<strong>de</strong> maio aqui na avenida Goiás. Então, o que ocorre?! Com o <strong>de</strong>correr do<br />
tempo, com as dificulda<strong>de</strong>s, não é, a fe<strong>de</strong>ração não pô<strong>de</strong> mais promover,<br />
porque nós não tínhamos recursos, financeiros, proteção, não é, e então...<br />
Eliesse: Proteção <strong>de</strong> que?<br />
Sr. Luís: Proteção policial...<br />
Eliesse: Por quê?<br />
Sr. Luís: Porque eles não aceitou, ô Eliesse, há um preconceito muito gran<strong>de</strong><br />
ainda, o preconceito disfarçado <strong>de</strong> nos aceitar. “Ah, eu gosto <strong>de</strong> você”, mas é<br />
mentira, ta falando <strong>de</strong> boca pra fora, não é?! (...) Olha, nós tivemos um fato,<br />
um fato verídico que eu mais o nosso irmão Elmo [Rocha, presi<strong>de</strong>nte do<br />
Conselho Sacerdotal da Fe<strong>de</strong>ração], que é um dos batalhadores aí, né, fomos ao<br />
comando geral levarmos um ofício pedindo, não é, pedindo proteção para com<br />
a nossa procissão e lá, dado momento o Elmo, na sua percepção, né, viu uma<br />
bíblia aberta na mesa do comandante, lá do coronel que estava pela região, pela<br />
metropolitana aqui <strong>de</strong> Goiânia, né, que coor<strong>de</strong>nava essa parte. Quê que<br />
aconteceu, ele, ao pegar – eu não percebi por malícia, mas o Elmo percebeu –<br />
ele mal pegou nesse papel, assim, como se tivesse pegando na folha do diabo,<br />
porque viu fe<strong>de</strong>ração. Ele perguntou: “Quê que é isso? Quê que é isso?”. O<br />
Elmo falou: “É uma entida<strong>de</strong>, Fe<strong>de</strong>ração <strong>de</strong> Umbanda e Candomblé do Estado<br />
<strong>de</strong> Goiás”. Então, quer dizer, fez um pouco caso da nossa presença, pra nós<br />
ali... pegou o papel assim e <strong>de</strong>u uma satisfação: “Ah, eu vou mandar” 65 .<br />
Fica claro pelo testemunho do Sr. Luís F. Salles que, para ele, a inviabilização<br />
da Procissão foi <strong>de</strong>vido ao preconceito existente contra a religião. Outro fato importante<br />
neste período foi o surgimento do primeiro Terreiro <strong>de</strong> Candomblé <strong>de</strong> Goiânia. Fundado<br />
no início da década <strong>de</strong> setenta pelo falecido pai-<strong>de</strong>-santo João <strong>de</strong> Abuk, o Ilê Axé Iba<br />
65 Entrevista com Sr. Luís Fernan<strong>de</strong>s Salles e Elmo Rocha, realizada em 16/11/06 por Eliesse Scaramal.<br />
93