UMBANDA EM GOIÂNIA - Faculdade de História - UFG
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liberda<strong>de</strong> para “criar” seu ritual da maneira que achar melhor. Claro que na maioria das<br />
vezes os rituais são realizados tendo como mo<strong>de</strong>los outros rituais já existentes. Mas não<br />
é raro, por exemplo, vermos a incorporação <strong>de</strong> outros elementos a este ritual, como é o<br />
caso das religiões da Nova Era, já analisados em nosso primeiro capítulo.<br />
Assim, há uma gama enorme <strong>de</strong> práticas ritualísticas singulares <strong>de</strong>ntro do<br />
universo umbandista. E é exatamente com um sentimento <strong>de</strong> unificação <strong>de</strong>sta religião,<br />
entre outras coisas, que surgem as fe<strong>de</strong>rações em todo o país. Inúmeras tentativas <strong>de</strong><br />
criar uma doutrina e uma ritualística única para a religião umbandista foram feitas,<br />
como <strong>de</strong>monstram os congressos <strong>de</strong> Umbanda realizados em São Paulo e Rio <strong>de</strong><br />
Janeiro.<br />
Em 1976 [por exemplo], realizou-se o II Seminário Paulista <strong>de</strong> Umbanda, <strong>de</strong>sta<br />
vez com uma ambição maior, a <strong>de</strong> padronizar as chamadas “sete linhas da<br />
Umbanda”. (...) Ela não prevaleceu nos terreiros, que continuaram a adotar as<br />
linhas segundo as concepções particulares <strong>de</strong> seus pais-<strong>de</strong>-santo. O mesmo que<br />
ocorreu, aliás, com a padronização das aberturas e encerramentos das giras<br />
propostas no I Seminário (NEGRÃO, 1996, p. 114).<br />
Tais tentativas <strong>de</strong> padronização da ritualística umbandista, no entanto, nunca<br />
vingaram <strong>de</strong>ntro dos terreiros, que continuavam realizando seus rituais <strong>de</strong>ntro do que os<br />
lí<strong>de</strong>res <strong>de</strong> terreiros e pais-<strong>de</strong>-santo consi<strong>de</strong>ravam como sendo o correto. Por vezes estas<br />
tentativas <strong>de</strong> padronização atendiam a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> moralizar os rituais umbandistas<br />
realizados, nos quais eram comuns, por exemplo, a cobrança dos serviços espirituais<br />
prestados, ou a utilização da religião “para a obtenção <strong>de</strong> vantagens pessoais”<br />
(NEGRÃO, 1996, p. 118). Essas atitu<strong>de</strong>s eram vistas pela maioria das Fe<strong>de</strong>rações como<br />
sendo contrárias à verda<strong>de</strong>ira religião Umbandista, a qual é regida pelo princípio da<br />
carida<strong>de</strong>, influência esta, aliás, que vinha do cristianismo e da própria doutrina<br />
kar<strong>de</strong>cista.<br />
No I Congresso Paulista <strong>de</strong> Umbanda, por exemplo, realizado em <strong>de</strong>zembro <strong>de</strong><br />
1961, foi assinada uma resolução que dizia ser a Umbanda “cristã, espírita-kar<strong>de</strong>cista,<br />
ecumênica e moralizada”. Assim, “com sua cristianização e moralização, não mais<br />
representaria a Umbanda qualquer perigo, <strong>de</strong>vendo, portanto, serem removidas as<br />
restrições legais à sua prática” (NEGRÃO, 1996, p. 94). Tais preocupações tinham<br />
como principal objetivo afastar da Umbanda toda e qualquer prática consi<strong>de</strong>rada<br />
“perigosa” para a socieda<strong>de</strong> da época, e assim conseguir a aceitação social que ela tanto<br />
almejava.<br />
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