UMBANDA EM GOIÂNIA - Faculdade de História - UFG
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A Umbanda, portanto, apresenta uma diferença em relação a outras religiões, e<br />
até mesmo em relação ao Candomblé. Tal diferença se constitui na não<br />
obrigatorieda<strong>de</strong> <strong>de</strong> que o freqüentador estabeleça um vínculo mais profundo<br />
com a religião. (...) A pessoa po<strong>de</strong> ir ao centro <strong>de</strong> Umbanda, conversar com as<br />
entida<strong>de</strong>s, pedir auxílio a elas, sem que seja necessário qualquer ritual<br />
iniciático [na maioria dos casos], e voltar pra casa sem a obrigatorieda<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />
retornar ao centro. Se retorna é apenas porque se i<strong>de</strong>ntifica com o culto ou vê<br />
na Umbanda uma ligação maior com o mundo sobrenatural através do contato<br />
com as entida<strong>de</strong>s. Mas em nenhum momento lhe é exigido que abandone sua<br />
prática religiosa original para freqüentar a Umbanda (NOGUEIRA, 2005, p.<br />
67).<br />
Tal característica po<strong>de</strong> ser observada também nos centros kar<strong>de</strong>cistas, o que faz<br />
com que o trânsito religioso entre estas duas religiões, tanto <strong>de</strong> fiéis quanto <strong>de</strong> centros,<br />
como foi o caso da Tenda do Caminho, se faça constante. Este é o caso também do Sr.<br />
Luís, que vindo <strong>de</strong> uma filiação kar<strong>de</strong>cista por parte <strong>de</strong> sua mãe, muda para a Umbanda<br />
após conhecer um centro que trabalhava com esta religião. A mudança, no entanto, não<br />
se dá <strong>de</strong> forma fácil, o que percebemos quando ele afirma que no início os trabalhos no<br />
novo centro lhe trouxeram uma “recusa”, em <strong>de</strong>corrência <strong>de</strong> sua formação kar<strong>de</strong>cista.<br />
Somente <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> algum tempo <strong>de</strong> adaptação que ele pô<strong>de</strong> se <strong>de</strong>dicar aos trabalhos<br />
nesta casa, inclusive fazendo parte da corrente, executando a função <strong>de</strong> Cambono, cargo<br />
<strong>de</strong> quem não incorpora, ou seja, não recebe entida<strong>de</strong>s para aten<strong>de</strong>r às pessoas, mas sim<br />
ajuda as entida<strong>de</strong>s incorporadas levando os instrumentos que elas possam necessitar<br />
como charutos, velas, bebidas etc.<br />
Após sete anos trabalhando neste centro, ele resolveu abrir seu próprio terreiro,<br />
em virtu<strong>de</strong> <strong>de</strong> <strong>de</strong>sentendimentos na antiga casa, que parou <strong>de</strong> funcionar por um tempo.<br />
Assim surgiu o Centro Espírita Anjo Ismael, localizado inicialmente no Setor<br />
Ferroviário, e mudando <strong>de</strong>pois, na década <strong>de</strong> setenta, para o Jardim Goiás, on<strong>de</strong> se<br />
encontra atualmente. A fundação e a escolha do nome foram <strong>de</strong>scritas pelo Sr. Luís da<br />
seguinte forma:<br />
Quando nós estávamos formando o grupo, ele [o Caboclo Ubirajara, guia-chefe<br />
do grupo] sentiu que não era um Caboclo <strong>de</strong> grupo, quer dizer, [<strong>de</strong>] trabalhos<br />
que nós chamamos trabalhos <strong>de</strong> quintal, trabalhos só <strong>de</strong> família, né. Então ele<br />
falou: “ou vocês dissolvem o grupo ou vocês me levam para uma casa maior<br />
para que eu possa praticar a nossa carida<strong>de</strong>”. Bom, aí nós reunimos no dia<br />
<strong>de</strong>zenove <strong>de</strong> Janeiro, num domingo, as <strong>de</strong>zessete horas, né, a maior parte do<br />
grupo pra escolher [o nome da nova casa]. E nós tínhamos um senhor, já<br />
falecido, o Sr. Sinval, no momento da abertura ele falou: “olha, eu vejo a<br />
imagem <strong>de</strong> um aspecto <strong>de</strong> um ‘ectoplasma’ espiritual <strong>de</strong> um arcanjo, tá aqui”.<br />
Mas nós não tínhamos contato com anjo, né, e aí, bom, aí veio aquela idéia:<br />
anjo? Aí, na <strong>de</strong>mocracia, fomos para a votação <strong>de</strong> qual o nome que ia<br />
prevalecer na nossa Casa. E eu fui o único que votei o nome Centro Espírita<br />
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