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UMBANDA EM GOIÂNIA - Faculdade de História - UFG

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Utilizando os números <strong>de</strong> São Paulo, por exemplo, apresentados por Negrão<br />

em seu livro, <strong>de</strong> 1929 a 1944 o número <strong>de</strong> centros espíritas kar<strong>de</strong>cistas<br />

registrados em cartórios naqueles anos representava 94% do total <strong>de</strong> Unida<strong>de</strong>s<br />

Religiosas registradas, contra apenas 6% da Umbanda. Alguns anos <strong>de</strong>pois, no<br />

período <strong>de</strong> 1953 a 1959, este número já havia invertido, com 68% <strong>de</strong> registros<br />

<strong>de</strong> casas <strong>de</strong> Umbanda contra 31% <strong>de</strong> kar<strong>de</strong>cistas. A tendência <strong>de</strong> crescimento<br />

da Umbanda prosseguiu, com seu ápice nos anos <strong>de</strong> 1968 a 1970, com 91% <strong>de</strong><br />

registros <strong>de</strong> casas <strong>de</strong> Umbanda contra apenas 4% <strong>de</strong> kar<strong>de</strong>cistas 33<br />

(NOGUEIRA, 2005, p. 31)<br />

Diante <strong>de</strong>ste avanço, durante os anos cinquenta a Igreja começou uma campanha<br />

<strong>de</strong> <strong>de</strong>smobilização e ataque a estas práticas, consi<strong>de</strong>radas por ela como <strong>de</strong>moníacas. A<br />

Igreja passou a se sentir ameaçada pelo crescimento das chamadas “religiões<br />

mediúnicas”, e<br />

no afã <strong>de</strong> recobrar uma posição <strong>de</strong> comodida<strong>de</strong> no mercado religioso, o<br />

discurso católico dos anos 1950 voltava-se contra a Umbanda, religião que se<br />

mostrava como essencialmente subversora da representação <strong>de</strong> um Brasil<br />

católico, ao projetar a imagem <strong>de</strong> religião tipicamente nacional. (...)<br />

Esforçando-se por manter como óbvia a imagem <strong>de</strong> um “Brasil católico” em<br />

meio a uma socieda<strong>de</strong> reveladora <strong>de</strong> padrões cada vez mais distantes do i<strong>de</strong>al<br />

<strong>de</strong> cristanda<strong>de</strong>, a Igreja via a Umbanda como a antítese da alva segurança<br />

nômica (ISAIA, S/D-b).<br />

Em São Paulo, ao lado da atuação da Igreja, estava a imprensa paulista,<br />

especialmente do jornal O Estado <strong>de</strong> S. Paulo, que não se cansou <strong>de</strong> publicar artigos e<br />

editoriais estigmatizando e <strong>de</strong>squalificando a Umbanda como “cancro gigantesco”,<br />

“torpeza”, “aviltante <strong>de</strong>gradação humana”, “repugnante”, “insulto à civilização” e<br />

“in<strong>de</strong>scritível podridão”. “Po<strong>de</strong>-se concluir que a Umbanda, em fins da década <strong>de</strong><br />

cinquenta, estava entre os dois fogos cruzados da ortodoxia religiosa e do<br />

intelectualismo positivista” (NEGRÃO, 1996, p. 85-86).<br />

Tal perseguição só cessaria durante o regime militar, quando a Umbanda passa<br />

então a gozar <strong>de</strong> relativa legitimida<strong>de</strong> junto à socieda<strong>de</strong> brasileira, sendo incluída pela<br />

primeira vez no Anuário Estatístico do IBGE, além <strong>de</strong> ter suas principais festas<br />

incluídas nos calendários turísticos regionais, como a festa <strong>de</strong> Iemanjá e <strong>de</strong> Xangô, no<br />

Rio <strong>de</strong> Janeiro e no Recife, respectivamente. Assim,<br />

a Umbanda continuou a crescer, reconhecida e estimulada pelos governos que<br />

se apropriaram do po<strong>de</strong>r em 1964. A Igreja Católica cessara a campanha contra<br />

33 Estes números se referem à quantida<strong>de</strong> <strong>de</strong> registros <strong>de</strong> terreiros realizados em cada ano, e não aos<br />

números <strong>de</strong> terreiros existentes. Dados retirados <strong>de</strong> NEGRÃO, 1996, p. 68, Quadro 1.<br />

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