UMBANDA EM GOIÂNIA - Faculdade de História - UFG
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elementos diversos em seus cultos, provenientes do Catolicismo, Espiritismo e das<br />
religiões <strong>de</strong> seus ancestrais africanos. Assim, a nova Nação que nascia, a partir da<br />
República e especialmente com o Estado Novo em 1930, que procurava inserir o Brasil<br />
num i<strong>de</strong>al <strong>de</strong> mo<strong>de</strong>rnida<strong>de</strong>, combatia o que consi<strong>de</strong>rava sinais do atraso e da ignorância<br />
<strong>de</strong>sta Nação.<br />
Uma nação que, a partir do século XIX, busca se livrar da pecha da escravidão<br />
e se aproximar dos conceitos europeus <strong>de</strong> civilização, mo<strong>de</strong>rnida<strong>de</strong>, <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong><br />
um caráter <strong>de</strong> explicação cientificista, através <strong>de</strong> um mo<strong>de</strong>lo evolucionista. É<br />
nesse caudal intelectual que os escritores umbandistas, aqui pesquisados, vão<br />
buscar i<strong>de</strong>ntificar a religiosida<strong>de</strong> umbandista e, por conseguinte, afastá-la <strong>de</strong><br />
seu mundo originariamente negro, pobre e <strong>de</strong> forte influência africana;<br />
elementos estes, vistos, a partir da segunda meta<strong>de</strong> do século XIX como<br />
atrasados, bárbaros e involuídos. Apagar das práticas umbandistas essas marcas<br />
significava mais que simplesmente se afastar <strong>de</strong>sse passado, significava se<br />
aproximar <strong>de</strong> um universo conceitual que <strong>de</strong>sse credibilida<strong>de</strong> e legitimida<strong>de</strong> as<br />
práticas religiosas das quais esses escritores não abriam mão mas ao mesmo<br />
tempo percebiam e criam <strong>de</strong>veriam ser alçadas a um patamar mais <strong>de</strong> acordo<br />
com a mo<strong>de</strong>rnida<strong>de</strong> proposta (SÁ JÚNIOR, 2004, p. 82).<br />
A negação <strong>de</strong> sua herança africana e sua vinculação ao Kar<strong>de</strong>c ismo, além <strong>de</strong><br />
coadunar com os i<strong>de</strong>ais republicanos <strong>de</strong> mo<strong>de</strong>rnização e elevação do status do Brasil ao<br />
mesmo dos países europeus, atendia também a uma estratégia <strong>de</strong> sobrevivência por<br />
parte dos lí<strong>de</strong>res e intelectuais umbandistas. Isto porque a repressão neste período às<br />
práticas consi<strong>de</strong>radas como “feitiçarias” e “sortilégios” era intensa, como vimos, e<br />
atingiam em cheio às religiões afro-brasileiras, especialmente a Umbanda.<br />
De qualquer forma, tal negação <strong>de</strong> seu passado negro-africano se dava apenas <strong>de</strong><br />
forma relativa, já que na prática e no cotidiano dos terreiros, a figura do preto-velho<br />
<strong>de</strong>nunciava a presença do ex-escravo negro e seus <strong>de</strong>scen<strong>de</strong>ntes nos trabalhos. Tal<br />
paradoxo, no entanto, não era evi<strong>de</strong>nciado por estes intelectuais, que continuavam a<br />
utilizar o discurso da origem mítica da Umbanda, ao invés <strong>de</strong> assumir sua origem<br />
africana e ter que sofrer as consequências.<br />
2.3. A Consolidação da Umbanda no Brasil<br />
A perseguição oficial aos terreiros <strong>de</strong> Umbanda, Candomblé e Macumba durou<br />
mais ou menos até a década <strong>de</strong> 1950, quando a Umbanda começa a crescer em números<br />
<strong>de</strong> terreiros em todo o país. Com o fim da perseguição oficial e com o fortalecimento<br />
das fe<strong>de</strong>rações, a Umbanda ganha fôlego e passa a reivindicar um espaço cada vez<br />
maior na socieda<strong>de</strong>.<br />
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