UMBANDA EM GOIÂNIA - Faculdade de História - UFG
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Tal aproximação se dá tanto no âmbito doutrinário, com os pais-<strong>de</strong>-santo e lí<strong>de</strong>res <strong>de</strong><br />
terreiros incorporando as idéias kar<strong>de</strong>cistas em suas práticas, quanto no âmbito<br />
institucional, por meio da <strong>de</strong>nominação <strong>de</strong> seus terreiros e tendas <strong>de</strong> Centros Espíritas.<br />
Mas tal aproximação não se dá <strong>de</strong> forma harmônica. Isto por que<br />
a aproximação tentada pelos primeiros umbandistas com o Kar<strong>de</strong>c ismo no<br />
Brasil contou com a enérgica oposição dos círculos espíritas do centro do país.<br />
Esses não admitiam a ligação entre o Kar<strong>de</strong>c ismo, que se cre<strong>de</strong>nciava à<br />
socieda<strong>de</strong> com uma i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> próxima aos valores consentidos pela elite e a<br />
Umbanda, ainda presa a conteúdos imagéticos que a confinavam aos<br />
subterrâneos sociais (ISAIA, 2006, p. 5).<br />
Vemos assim que, enquanto os umbandistas tentam uma aproximação com os<br />
kar<strong>de</strong>cistas, os intelectuais espíritas seguem na direção oposta. Como a Umbanda era<br />
religião perseguida e mal vista pela socieda<strong>de</strong> da época, os praticantes espíritas agem no<br />
sentido <strong>de</strong> se diferenciarem dos Umbandistas, afirmando serem religiões completamente<br />
distintas. Tal tentativa <strong>de</strong> separação faz com que surjam as <strong>de</strong>nominações <strong>de</strong> “baixo” e<br />
“alto espiritismo”, o primeiro para se referir às práticas da macumba, Umbanda e até<br />
mesmo Candomblé, <strong>de</strong> forma geral, e a segunda se referindo aos centros espíritas <strong>de</strong><br />
origem kar<strong>de</strong>cista propriamente ditos.<br />
O “alto” Espiritismo seria, portanto, religião protegida pelo Estado, culto<br />
semelhante aos <strong>de</strong>mais e livre, inspirado nos nobres princípios da carida<strong>de</strong>,<br />
envolvendo pessoas instruídas e <strong>de</strong> elevada condição social. O “baixo”<br />
Espiritismo seria a prática <strong>de</strong> “sortilégios”, <strong>de</strong> feitiçaria e curan<strong>de</strong>irismo<br />
enquadráveis no Código Penal, <strong>de</strong>spido <strong>de</strong> moralida<strong>de</strong> e motivado por<br />
interesses escusos, envolvendo pessoas <strong>de</strong>sclassificadas socialmente e<br />
ignorantes (NEGRÃO, 1996, p. 57).<br />
Vê-se assim, claramente, porque a ânsia dos intelectuais umbandistas em se<br />
aproximarem do Espiritismo, e dos pais-<strong>de</strong>-santo da Umbanda em disfarçarem seus<br />
terreiros e tendas atrás da máscara <strong>de</strong> Centros Espíritas, para fugir aos estereótipos<br />
inferiorizantes que o i<strong>de</strong>al republicano associava às práticas <strong>de</strong> negros ex-escravos e<br />
<strong>de</strong>scen<strong>de</strong>ntes <strong>de</strong> africanos. Isto porque “a República simbolizava os anseios <strong>de</strong><br />
mo<strong>de</strong>rnização da socieda<strong>de</strong> brasileira e não mais po<strong>de</strong>ria ser tolerada qualquer<br />
evidência do que, em sua ótica, representasse ignorância e atraso” (NEGRÃO, 1996, p.<br />
61-62).<br />
O que representava ignorância e atraso nesta socieda<strong>de</strong> nascente, entre outras<br />
coisas, eram as práticas mágico-religiosas dos <strong>de</strong>scen<strong>de</strong>ntes <strong>de</strong> escravos, que<br />
procuravam por meio da macumba dar vazão a seus anseios religiosos, incorporando<br />
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