UMBANDA EM GOIÂNIA - Faculdade de História - UFG
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<strong>de</strong>stas religiões, principalmente as entida<strong>de</strong>s dos pretos-velhos e caboclos, simbolizando<br />
o negro e o índio, mas os aceita <strong>de</strong> forma racionalizada, eufemizada, já que nos terreiros<br />
influenciados pelo Kar<strong>de</strong>c ismo tais entida<strong>de</strong>s não po<strong>de</strong>m utilizar bebidas alcoólicas,<br />
nem fumos, não dançam nem há as “curimbas” ou pontos cantados tradicionais na<br />
religião.<br />
Tal narrativa ganhou forças a partir do I Congresso <strong>de</strong> Umbanda, realizado em<br />
1941 no Rio <strong>de</strong> Janeiro, no qual vários intelectuais e lí<strong>de</strong>res umbandistas discutiram,<br />
entre outras coisas, sobre as origens da religião que praticavam e professavam. Essa<br />
narrativa se insere, portanto, numa corrente <strong>de</strong> pensamento fortalecida a partir da década<br />
<strong>de</strong> trinta no Brasil com o Estado Novo, e que procurava construir uma alva nação<br />
brasileira <strong>de</strong>stituída <strong>de</strong> seus traços inferiorizantes, como o traço negro, por exemplo.<br />
Os intelectuais umbandistas tentam se afinizar com estas correntes, procurando<br />
fazer o mesmo com a Umbanda, até mesmo como uma estratégia <strong>de</strong> sobrevivência da<br />
religião frente ao preconceito existente contra tudo o que se relacionasse ao negro na<br />
socieda<strong>de</strong> brasileira.<br />
Este era um momento em que as teorias racialistas estavam em voga em nossa<br />
socieda<strong>de</strong>. É o momento <strong>de</strong> Nina Rodrigues, Silvio Romero, Oliveira Vianna e as<br />
teorias racialistas do branqueamento, nas quais estes autores discutiam sobre qual seria<br />
a melhor forma <strong>de</strong> resolver o “problema do negro” no Brasil, e faziam prognósticos <strong>de</strong><br />
quanto tempo levaria para que a população brasileira estivesse totalmente branqueada,<br />
pelo processo da mestiçagem. Também era o momento <strong>de</strong> Gilberto Freyre e suas idéias<br />
<strong>de</strong> mestiçagem e das relações raciais cordiais, que <strong>de</strong>ram origem ao mito da <strong>de</strong>mocracia<br />
racial, presente até hoje na mentalida<strong>de</strong> <strong>de</strong> muitos intelectuais brasileiros<br />
Portanto, o negro e consequentemente tudo que estava relacionado a ele, sua<br />
cultura, língua, religião, eram vistos como negativos, selvagens, bárbaros, e passíveis <strong>de</strong><br />
serem combatidos. Estudos <strong>de</strong> cientistas como Linneu, Gobineu, Lombroso e Haeckel,<br />
recém chegados ao Brasil na virada do século, influenciavam nossos intelectuais e a<br />
visão que eles tinham do negro, colocando-o na última escala da hierarquia evolutiva<br />
humana e associando-o à criminalida<strong>de</strong>, à indolência, à preguiça e à loucura 30 .<br />
Assim, para se <strong>de</strong>svencilhar <strong>de</strong>sta história vinculada ao negro e à África, ao<br />
mesmo tempo em que os intelectuais umbandistas elegem a narrativa <strong>de</strong> Zélio <strong>de</strong><br />
30 Para mais informações sobre o racismo científico dos séculos XIX e XX e sua influência nos teóricos<br />
brasileiros confira a obra <strong>de</strong> Sério Costa: Dois Atlânticos – Teoria Social, Anti-Racismo, Cosmopolitismo.<br />
Belo Horizonte, UFMG: 2006, especialmente o capítulo VI – O Racismo Científico e sua recepção no<br />
Brasil.<br />
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