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UMBANDA EM GOIÂNIA - Faculdade de História - UFG

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pais, aconselhados por uma vizinha que dizia ser aquilo “coisa <strong>de</strong> espiritismo”,<br />

resolvem levá-lo até a Fe<strong>de</strong>ração Espírita <strong>de</strong> Niterói. Lá, ao conversarem com o<br />

presi<strong>de</strong>nte da casa, Sr. Luís, Zélio tem mais um <strong>de</strong> seus “ataques”, e o Sr. Luís então<br />

trava um diálogo com o espírito incorporado em Zélio, que se <strong>de</strong>nominou <strong>de</strong> “Caboclo<br />

das Sete Encruzilhadas”.<br />

Ao ser indagado sobre o objetivo <strong>de</strong> sua visita, o Caboclo alega ser o portador <strong>de</strong><br />

uma mensagem, a da revelação <strong>de</strong> uma nova religião, que viria para falar aos pobres e<br />

humil<strong>de</strong>s em sua linguagem, e incorporaria em seu seio os espíritos humil<strong>de</strong>s <strong>de</strong><br />

Caboclos e Pretos-Velhos, que não obtinham aceitação em centros espíritas por serem<br />

consi<strong>de</strong>rados espíritos sem evolução.<br />

No dia seguinte, Zélio <strong>de</strong> Moraes, segundo os relatos, teria montado uma mesa<br />

em sua casa para receber médiuns que, escorraçados dos centros kar<strong>de</strong>cistas por<br />

receberem os espíritos <strong>de</strong> Caboclos e Pretos-Velhos, para ali acorreram a fim <strong>de</strong><br />

trabalharem nesta nova religião. O terreiro improvisado recebeu o nome <strong>de</strong> Tenda<br />

Nossa Senhora da Pieda<strong>de</strong>, e é reconhecido por muitos intelectuais umbandistas como o<br />

primeiro terreiro <strong>de</strong> Umbanda do Brasil.<br />

Não iremos entrar em <strong>de</strong>talhes sobre esta história contada e recontada por<br />

intelectuais umbandistas e não-umbandistas que analisaram o surgimento <strong>de</strong>sta religião.<br />

Tal análise po<strong>de</strong> ser encontrada <strong>de</strong> forma <strong>de</strong>talhada na obra <strong>de</strong> Mário Teixeira <strong>de</strong> Sá<br />

Júnior, cujo título, A Invenção da Alva Nação Umbandista, já nos dá mostras do teor <strong>de</strong><br />

sua análise. Nos limitaremos a fazer algumas consi<strong>de</strong>rações propostas pelo autor na<br />

obra citada.<br />

O autor afirma que esta narrativa, encontrada <strong>de</strong> forma <strong>de</strong>talhada na obra <strong>de</strong><br />

Rubens Saraceni reveste-se <strong>de</strong> um profundo simbolismo ao interpretarmos seus<br />

principais elementos. Inicialmente a origem do personagem principal da narrativa, que<br />

seria o portador do mensageiro <strong>de</strong>sta nova religião:<br />

Aos 17 anos, o garoto “<strong>de</strong> família importante” já havia concluído o seu “curso<br />

propedêutico”. O texto não <strong>de</strong>ixa margem para erros. Zélio pertence ao mundo<br />

da or<strong>de</strong>m e, por conseguinte, branco. São cre<strong>de</strong>nciais <strong>de</strong>sse mundo, na<br />

narrativa, a formação intelectual do jovem e a estruturação <strong>de</strong> sua família.<br />

Nela, havia médico e “até padre”. Essa é uma família branca e aristocrática<br />

que, por certo, encontraremos referências na família patriarcal <strong>de</strong> Gilberto<br />

Freyre, em sua Casa Gran<strong>de</strong> & Senzala. A sua origem está associada a essa<br />

casa gran<strong>de</strong> e, logo <strong>de</strong> cara, distanciada da negra senzala. Ainda que os anos<br />

se distanciassem, do final do império e da abolição da escravidão, assim<br />

po<strong>de</strong>ríamos <strong>de</strong>finir a situação do jovem Zélio: “um sinhozinho” da casa gran<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> Freyre (SÁ JÚNIOR, 2004, p. 67-68).<br />

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