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UMBANDA EM GOIÂNIA - Faculdade de História - UFG

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presente também na estrutura jurídica dos terreiros. As autorida<strong>de</strong>s da época, portanto,<br />

<strong>de</strong>viam fazer distinção, na hora <strong>de</strong> combater aos terreiros, entre aqueles que<br />

consi<strong>de</strong>ravam “falsos centros espíritas”, ou seja, terreiros <strong>de</strong> macumba, Umbanda ou<br />

Candomblé que se <strong>de</strong>nominavam como espíritas para fugir à repressão. Negrão explica<br />

que<br />

o que em realida<strong>de</strong> ocorreu é que tais terreiros <strong>de</strong> Umbanda, cuja i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong><br />

pu<strong>de</strong>mos perceber somente por meio <strong>de</strong> <strong>de</strong>tidos exames em seus estatutos e<br />

atas <strong>de</strong> fundação, travestiram-se <strong>de</strong> espíritas para obterem os registros em<br />

cartório que lhes asseguraria o caráter <strong>de</strong> organização religiosa legalizada<br />

(NEGRÃO, 1996, p. 74).<br />

Arthur César Isaia nos apresenta, no entanto, outra visão da relação entre a<br />

Umbanda e o Estado Novo. Segundo o autor, “o Estado Novo parece ter oscilado entre a<br />

explícita repressão e a discreta tolerância à nova religião” (ISAIA, 2006, p. 312). Esta<br />

“discreta tolerância” se baseia em um documento <strong>de</strong> 1938, “do Serviço <strong>de</strong> Inquéritos<br />

Políticos e Sociais do Estado Novo, que fazia um levantamento das principais forças<br />

religiosas existentes no país, procurando <strong>de</strong>tectar as possibilida<strong>de</strong>s reais ou virtuais <strong>de</strong><br />

oposição ao regime” (ISAIA, 2006, p. 299).<br />

A conclusão <strong>de</strong>ste documento era que a Igreja Católica representava uma<br />

instituição que po<strong>de</strong>ria entrar em confronto com a política varguista, enquanto que o<br />

Espiritismo, “não tendo homogeneida<strong>de</strong>, coesão, disciplina espiritual e rígida e muito<br />

menos comando único, não apresenta, no momento, qualquer perigo para o Estado” 26 .<br />

Por outro lado, tal relação <strong>de</strong> “tolerância discreta” entre o Estado Novo e a Umbanda é<br />

legitimado pela fala <strong>de</strong> alguns umbandistas:<br />

Fora dos círculos governamentais, abundam os <strong>de</strong>poimentos <strong>de</strong> antigos<br />

umbandistas, nos quais Vargas aparece completamente distante da repressão,<br />

como, por exemplo, o <strong>de</strong> Dona Luci Calvoso <strong>de</strong> Souza (SOUZA, 1997 27 ). (...)<br />

Nascida em 1919, Dona Luci recorda da repressão policial à casa <strong>de</strong> seu pai,<br />

quando ela já trabalhava na Umbanda, aos 17 anos, portanto, às vésperas da<br />

ditadura estadonovista. Getúlio, contudo, aparece em sua fala como lí<strong>de</strong>r<br />

político que garantiu a existência da Umbanda e Religiões Africanas, não<br />

permitindo jamais que as mesmas fossem molestadas. (ISAIA, 2006, p. 311).<br />

Lísias Negrão reforça esta tese em sua obra, ao analisar o período <strong>de</strong> 1945,<br />

quando ocorre a re<strong>de</strong>mocratização no país proposta por Vargas. “Temos então que<br />

Getúlio Vargas e seu aliado paulista A<strong>de</strong>mar <strong>de</strong> Barros, <strong>de</strong> algozes no período do<br />

26 CPDOC/FGV ARQUIVO GUSTAVO CAPAN<strong>EM</strong>A 26 apud ISAIA, 2006, p. 301.<br />

27 SOUZA, Luci Calvoso <strong>de</strong>. Entrevista concedida a Artur César Isaia. Rio <strong>de</strong> Janeiro, 11, out., 1997.<br />

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