UMBANDA EM GOIÂNIA - Faculdade de História - UFG
UMBANDA EM GOIÂNIA - Faculdade de História - UFG
UMBANDA EM GOIÂNIA - Faculdade de História - UFG
Create successful ePaper yourself
Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.
“comunhão <strong>de</strong> sentidos” a que se refere Baczko (1984) 25 (ISAIA, 2006, p.<br />
298).<br />
De todo modo, o fato é que a partir do início do século XX o termo Umbanda<br />
passará a ser utilizado para <strong>de</strong>nominar as práticas realizadas nos terreiros cariocas e<br />
paulistas. “Não se trata, portanto, <strong>de</strong> reencontrar (...) on<strong>de</strong> e quando a palavra Umbanda<br />
aparece pela primeira vez, tarefa que se revela aliás inútil” (ORTIZ, 1999, p. 32). Como<br />
afirma Alfredo D’Alcântara durante o Primeiro Congresso Umbandista <strong>de</strong> 1941:<br />
Um nome era preciso para batizar a modalida<strong>de</strong> religiosa que se esboçava com<br />
tanto prestígio. (...) Escolheram Umbanda. Mas quem escolheu? Ninguém po<strong>de</strong><br />
respon<strong>de</strong>r; sabe-se apenas que ele começou a ser empregado aqui no Distrito<br />
Fe<strong>de</strong>ral e Estado do Rio (BANDEIRA, 1970, p. 81).<br />
Ao longo dos primeiros anos do século XX, a nova religião que surgiu cresceu<br />
<strong>de</strong> forma sistemática, e a partir dos anos 30 passou a atrair a “ira do Estado Novo, ainda<br />
em nome do combate ao arcaísmo e a ignorância” (NEGRÃO, 1996, p. 70). Em São<br />
Paulo, por exemplo, foi criado em 1931 a “Inspetoria <strong>de</strong> Entorpecentes e Mistificações,<br />
que se <strong>de</strong>dicava à ‘repressão do uso <strong>de</strong> tóxicos e da prática <strong>de</strong> magias e sortilégios”.<br />
Assim, “verifica-se que o Espiritismo, criminalizado no primeiro Código Penal<br />
Republicano, não mais está incluído no rol das proibições” (NEGRÃO, 1996, p. 70),<br />
que agora se limita às práticas <strong>de</strong> magia e sortilégios, os quais se referiam<br />
explicitamente em outros trechos à Macumba e ao Candomblé, entre outros.<br />
Em 1936, o caráter <strong>de</strong> campanha tornou-se mais explícito. Com o título <strong>de</strong><br />
“Campanha Policial contra o Baixo Espiritismo”, noticiava-se or<strong>de</strong>m da<br />
Delegacia <strong>de</strong> Costumes para que diretores <strong>de</strong> centros espíritas, cujo número,<br />
dizia o jornal, “se eleva a mais <strong>de</strong> duzentos”, regularizassem seus alvarás.<br />
Procurava-se assim combater o “baixo espiritismo”, sem confundi-lo com o<br />
“alto”, o qual teria direito a alvarás <strong>de</strong> funcionamento. O Espiritismo<br />
kar<strong>de</strong>cista, branco, cristão e cultivado por pessoas <strong>de</strong> classes médias e<br />
superiores já tinha suficiente reconhecimento oficial, não mais criminalizado<br />
(NEGRÃO, 1996, p. 73).<br />
Este foi um ótimo motivo para que, a partir da década <strong>de</strong> trinta, o contato entre<br />
Umbanda e Espiritismo se intensificasse ainda mais. Isto porque os lí<strong>de</strong>res da religião<br />
nascente viram no Espiritismo uma saída para tentar fugir à repressão policial,<br />
travestindo seus terreiros <strong>de</strong> centros espíritas. Isto só fez aumentar os pontos <strong>de</strong> contato<br />
entre as duas religiões, que, se antes eram apenas na parte doutrinária, agora se faz<br />
25 BACZKO, Bronislaw. Lês imaginaires sociaux - Mémoire et spoirs colleectifs. Paris: Payot, 1984.<br />
57