UMBANDA EM GOIÂNIA - Faculdade de História - UFG
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individualmente na estrutura social, o negro não tem alternativa, ele precisa aceitar os<br />
valores impostos pelo mundo branco” (ORTIZ, 1999, p. 33). A Umbanda seria o<br />
resultado <strong>de</strong>sta aceitação dos valores do mundo branco e sua inserção nos cultos <strong>de</strong><br />
origem afro.<br />
Enten<strong>de</strong>mos, porém, que esta análise <strong>de</strong> Renato Ortiz se torna parcial na medida<br />
em que ele submete a religião a um fenômeno sócio-econômico, a saber, a consolidação<br />
da socieda<strong>de</strong> urbano-industrial. Em sua análise estruturalista, Ortiz não percebe que a<br />
religião, apesar <strong>de</strong> se inserir na socieda<strong>de</strong> em que existe e, portanto, <strong>de</strong> se relacionar<br />
com os outros aspectos da vida do indivíduo (como a política e a economia), não é, no<br />
entanto, condicionada apenas por eles.<br />
A religião é a esfera da socieda<strong>de</strong> que fornece ao indivíduo um sentido para a<br />
socieda<strong>de</strong> em que vive. Ela age <strong>de</strong> forma marginal à socieda<strong>de</strong> capitalista, po<strong>de</strong>ndo ser<br />
recorrida como refúgio e via alternativa para <strong>de</strong>volver o equilíbrio emocional,<br />
psicológico, e, por que não, espiritual ao indivíduo (PIERUCCI; PRANDI, 1996, p. 18)<br />
Portanto, preferimos enxergar a prática e a crença religiosa como fruto dos anseios,<br />
vivências e sentidos construídos pelos indivíduos, e acreditar que sua condição sócio-<br />
econômica tem relação e po<strong>de</strong> até influenciar na escolha <strong>de</strong>sta crença religiosa, mas em<br />
muitos casos não é ela que <strong>de</strong>termina esta opção.<br />
Assim, a mudança religiosa, na maioria das vezes, está muito mais relacionada à<br />
busca <strong>de</strong> um sentido para a vida individual do que à busca <strong>de</strong> ascensão sócio-<br />
econômica. Se tal teoria <strong>de</strong> Ortiz tivesse respaldo, os praticantes da macumba do início<br />
do século teriam se convertido ao catolicismo, que sempre foi religião majoritária da<br />
socieda<strong>de</strong> brasileira, e não insistido em suas práticas <strong>de</strong> cunho mágico-religioso,<br />
permitindo que continuassem a ser subjugados e perseguidos, agora não mais em nome<br />
da escravidão, mas em nome do combate à sua opção religiosa. Para Arthur César Isaia,<br />
a análise <strong>de</strong> Renato Ortiz parte da “coincidência da emergência da nova religião (a<br />
Umbanda) com a intensificação da urbanização e industrialização do país”, concluindo<br />
que<br />
encaramos a Umbanda como fenômeno religioso não redutível a explicações<br />
macroestruturais, e muito menos a uma visão globalizante, capaz <strong>de</strong> abarcar<br />
todo o universo simbólico umbandista e explicar <strong>de</strong> maneira perfeitamente<br />
acabada e racional o seu discurso. Preferimos enfocar o surgimento e as<br />
transformações históricas inerentes à Umbanda, remetendo-as para a infinita<br />
capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> ressematização própria da ativida<strong>de</strong> discursiva. (...) A Umbanda<br />
passa por todos os jogos inerentes à construção da socieda<strong>de</strong>, interagindo com<br />
situações, conjunturas, interesses, e com toda uma bagagem simbólica, com a<br />
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