UMBANDA EM GOIÂNIA - Faculdade de História - UFG
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Renato Ortiz, ao se voltar para a origem da religião, analisando as <strong>de</strong>scrições <strong>de</strong><br />
surgimentos <strong>de</strong> terreiros até os anos 1930, vê na Cabula a “fusão das práticas bantos<br />
com o espiritismo”. O autor nos dá alguns exemplos <strong>de</strong> lí<strong>de</strong>res religiosos que passaram<br />
do Kar<strong>de</strong>c ismo à prática <strong>de</strong>sta nova religião que surgia, como é o caso da fundação, em<br />
1924, da Tenda Espírita Mirim no Rio <strong>de</strong> Janeiro, por Benjamim Figueiredo. A história<br />
<strong>de</strong>ste médium <strong>de</strong>monstra como a inserção do Espiritismo no Brasil foi fundamental para<br />
o nascimento da Umbanda. Segundo Ortiz, ele teria iniciado sua vida religiosa no<br />
Espiritismo kar<strong>de</strong>cista, trazido da França pela avó.<br />
Acontece no entanto que Benjamim recebe o espírito do Caboclo Mirim, índio<br />
brasileiro, o que lhe impossibilita <strong>de</strong> continuar seu trabalho com os kar<strong>de</strong>cistas,<br />
que recusam esse gênero <strong>de</strong> espírito por consi<strong>de</strong>rá-lo por <strong>de</strong>mais impuro para<br />
<strong>de</strong>senvolver o progresso da humanida<strong>de</strong> (ORTIZ, 1999, p. 41).<br />
Assim Benjamim abandona a mesa kar<strong>de</strong>cista e funda sua Tenda, para po<strong>de</strong>r<br />
continuar trabalhando com seu Caboclo. Dois anos <strong>de</strong>pois, no ano <strong>de</strong> 1926, temos outro<br />
caso: o do médium Otacílio Charão, que “após uma estadia <strong>de</strong> <strong>de</strong>z anos na África, volta<br />
ao Rio Gran<strong>de</strong> (RS) e abre o Centro Espírita Reino <strong>de</strong> São Jorge, on<strong>de</strong> recebe como<br />
médiuns os espíritos do preto-velho Girassol e do Caboclo Vira Mundo” (ORTIZ, 1999,<br />
p. 42). Tais exemplos <strong>de</strong>monstram como no início do século começam a surgir os<br />
primeiros terreiros, muitos ainda sendo referidos como casas <strong>de</strong> macumba, e mais tar<strong>de</strong><br />
apropriando-se do termo que começava a se popularizar no Rio <strong>de</strong> Janeiro: Umbanda.<br />
Renato Ortiz, a partir <strong>de</strong>stes exemplos, viu no nascimento da Umbanda o<br />
resultado <strong>de</strong> dois movimentos congêneres. De um lado, temos o movimento do<br />
“embranquecimento” dos cultos afro, traduzido pelo que ele consi<strong>de</strong>ra “a <strong>de</strong>sagregação<br />
da memória coletiva negra”, que acontece no interior dos cultos afro-brasileiros <strong>de</strong><br />
origem banto; <strong>de</strong> outro lado, temos o movimento do “empretecimento” das práticas<br />
kar<strong>de</strong>cistas, apropriadas pelos macumbeiros e umbandistas <strong>de</strong> um modo geral. Percebe-<br />
se assim que esta teoria <strong>de</strong> Renato Ortiz se insere naquela corrente teórica que<br />
analisamos em nosso primeiro capítulo, <strong>de</strong> autores como Nina Rodrigues e Roger<br />
Basti<strong>de</strong>, que vêem no sincretismo uma “<strong>de</strong>turpação da pureza mítica e ritual africana”,<br />
aqui sendo substituído pelo termo “<strong>de</strong>sagregação”.<br />
Ortiz enten<strong>de</strong> a Umbanda como resultado <strong>de</strong> uma “canalização” <strong>de</strong>stas práticas<br />
resultantes da “<strong>de</strong>sagregação das antigas tradições afro-brasileiras” (as macumbas) para<br />
a formação <strong>de</strong> uma religião única que permitisse aos negros uma inserção na “socieda<strong>de</strong><br />
urbano-industrial” (a Umbanda). Isto porque, segundo o autor, “para subir<br />
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