08.05.2013 Views

UMBANDA EM GOIÂNIA - Faculdade de História - UFG

UMBANDA EM GOIÂNIA - Faculdade de História - UFG

UMBANDA EM GOIÂNIA - Faculdade de História - UFG

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

Tais práticas, portanto, não possuíam uma característica única. Cada feiticeiro,<br />

cada calunduzeiro elaborava seu ritual com os elementos que achasse mais<br />

convenientes. Não se tratava, portanto, <strong>de</strong> religião <strong>de</strong>finida, com doutrina e ritualística<br />

única, pelo contrário, os rituais e as crenças variavam <strong>de</strong> diversas formas. No entanto,<br />

concordamos com Laura <strong>de</strong> Mello e Souza, ao analisar estas narrativas que aqui<br />

<strong>de</strong>screvemos, quando ela afirma que<br />

há certa unida<strong>de</strong> em todas estas práticas: a possessão ritual – os ventos <strong>de</strong><br />

adivinhar – a evocação <strong>de</strong> espíritos (em geral <strong>de</strong> <strong>de</strong>funtos), as oferendas feitas a<br />

eles, os trajes <strong>de</strong> inspiração africana, a adivinhação, às vezes o curan<strong>de</strong>irismo, a<br />

música cantada e marcada pelos instrumentos <strong>de</strong> percussão, o caráter coletivo<br />

(SOUZA, 1986, p. 269).<br />

Assim, a autora complementa que<br />

as bolsas <strong>de</strong> mandinga, os patuás que se usavam no pescoço e sintetizavam<br />

crenças africanas, ameríndias e européias foram, ao lado dos calundus<br />

igualmente sintetizadores, as duas gran<strong>de</strong>s soluções da magia e da feitiçaria<br />

coloniais (SOUZA, 1986, p. 273).<br />

Tais práticas continuaram a aparecer durante todo o séc. XIX e serviram <strong>de</strong> base<br />

para o surgimento do Candomblé, conforme <strong>de</strong>monstrou já o pesquisador Renato da<br />

Silveira. Este autor analisa como se organiza o primeiro Candomblé <strong>de</strong> nação ketu <strong>de</strong><br />

que se tem notícia: o Ilê Axé Iyá Nassô Oká, ou o Candomblé da Barroquinha, fundado<br />

em 1789 em Salvador, na Bahia. Segundo o autor, a data <strong>de</strong> fundação do terreiro<br />

“coinci<strong>de</strong> com a chegada à Bahia dos primeiros escravos nagôs do reino <strong>de</strong> Ketu (...) <strong>de</strong><br />

on<strong>de</strong> teriam vindo os fundadores” (SILVEIRA, 2005, p. 19).<br />

Candomblés, Calundus e Batuques, portanto, teriam convivido durante o final do<br />

séc. XVIII, e durante todo o século XIX. Ao mesmo tempo, existiam “adivinhos e<br />

curan<strong>de</strong>iros [que] atendiam em casa, sem participar da hierarquia dos terreiros <strong>de</strong><br />

Candomblé” (REIS, 2005, p. 25). Tais figuras ficaram conhecidas como “feiticeiros<br />

negros”, e até “há casos do período colonial <strong>de</strong> senhores que chegaram a agenciar<br />

escravos curan<strong>de</strong>iros e por isso tiveram que dar satisfação à Inquisição” (REIS, 2005, p.<br />

27).<br />

Um <strong>de</strong>sses casos que ficou famoso aconteceu no Rio <strong>de</strong> Janeiro entre os anos <strong>de</strong><br />

1860 e 70. O caso do negro Juca Rosa, mais conhecido como Pai Quilombo <strong>de</strong>spertou a<br />

atenção da imprensa e do Estado à época, após <strong>de</strong>núncia feita contra ele <strong>de</strong> estelionato,<br />

50

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!