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UMBANDA EM GOIÂNIA - Faculdade de História - UFG

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Uma das primeiras <strong>de</strong>scrições <strong>de</strong> um ritual <strong>de</strong>ste tipo na colônia foi feito em<br />

1728, por Nuno Marques Pereira, que ao se hospedar em uma fazenda no interior <strong>de</strong><br />

Minas,<br />

não pô<strong>de</strong> dormir direito à noite <strong>de</strong>vido ao “estrondo dos tabaques, pan<strong>de</strong>iros,<br />

canzás, botijas e castanhetas” dos negros, fazendo “tão horrendo alaridos” que<br />

pareceu ao Peregrino a confusão do inferno. (...) “São uns folguedos ou<br />

adivinhações (respon<strong>de</strong>u ao Peregrino) que dizem estes pretos que costumam<br />

fazer nas suas terras, e quando se acham juntos, também usam <strong>de</strong>les cá, para<br />

saberem várias coisas; como as doenças <strong>de</strong> que proce<strong>de</strong>m; e para adivinharem<br />

algumas coisas perdidas; e também para terem ventura em suas caçadas, e<br />

lavouras; e para muitas outras coisas” (PEREIRA, 1939, p. 123).<br />

Outro exemplo <strong>de</strong>stes tipos <strong>de</strong> práticas po<strong>de</strong> ser encontrado no texto <strong>de</strong> Luciano<br />

Figueiredo sobre o cotidiano da mulher nas Minas Gerais do séc. XVIII. Luciano cita o<br />

caso <strong>de</strong> Maria Canga, que “vivia do ouro propiciado com as rendas das adivinhações”, e<br />

para isto “inventava uma dança <strong>de</strong> batuque” (FIQUEIREDO, 1993, p. 179). Também<br />

em Minas, estado em que encontramos o maior número <strong>de</strong> relatos <strong>de</strong>ste tipo, Laura <strong>de</strong><br />

Mello e Souza relata um caso <strong>de</strong> roubo <strong>de</strong> hóstias no Brasil colonial por mulatos<br />

<strong>de</strong>scen<strong>de</strong>ntes <strong>de</strong> africanos, que viam nas hóstias uma utilida<strong>de</strong> mágico-religiosa, pois<br />

acreditavam que “a hóstia ajudava a fechar o corpo, a livrar <strong>de</strong> ferimentos [e] <strong>de</strong>fendia<br />

os infratores” (SOUZA, 1999, p. 201).<br />

Ainda em Minas temos o exemplo trazido por Luiz Mott do Acotundá ou Dança<br />

da Tunda, ritual religioso li<strong>de</strong>rado pela negra Josefa Maria <strong>de</strong>scoberto em 1747, que<br />

misturava danças e orações africanas com rezas e objetos rituais católicos, como já<br />

analisamos no primeiro capítulo. Já na Bahia temos o exemplo trazido por João José<br />

Reis ao analisar uma <strong>de</strong>vassa contra um terreiro <strong>de</strong> Calundu na cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Cachoeira, em<br />

1785, também já citado por nós no capítulo anterior.<br />

Todas estas práticas recebiam <strong>de</strong>nominações diversas à época. Eram conhecidas<br />

como Calundus ou Batuques, e praticados principalmente por negros escravos <strong>de</strong><br />

origem africana, ou seus <strong>de</strong>scen<strong>de</strong>ntes mulatos. Para Ronaldo Vainfas e Beatriz <strong>de</strong><br />

Souza,<br />

sob o nome <strong>de</strong> Calundus se <strong>de</strong>screvia uma série <strong>de</strong> práticas negras <strong>de</strong><br />

adivinhações, possessões, sortilégios, curas e folguedos com batuques. Diante<br />

dos Calundus, os padres, muitas vezes, se consi<strong>de</strong>ravam impotentes para<br />

impedir tais práticas i<strong>de</strong>ntificadas como culto ao diabo. (...) Os colonos<br />

recorriam aos feiticeiros não só para obtenção <strong>de</strong> favores especiais, mas<br />

também, não raro, para contornar a ineficiência dos remédios <strong>de</strong> botica. As<br />

reza<strong>de</strong>iras, benze<strong>de</strong>iras e adivinhos se espalhavam pelas vilas e povoados<br />

coloniais (SOUZA; VAINFAS, 2002, p. 23).<br />

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