UMBANDA EM GOIÂNIA - Faculdade de História - UFG
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a Umbanda se diferencia por trabalhar com <strong>de</strong>terminados tipos <strong>de</strong> espíritos,<br />
consi<strong>de</strong>rados tipos i<strong>de</strong>ais <strong>de</strong> indivíduos “marginalizados” na socieda<strong>de</strong>, mas que no<br />
terreiro <strong>de</strong> Umbanda são divinizados e se tornam a base central <strong>de</strong> seu culto. Como<br />
afirma Patrícia Birman,<br />
po<strong>de</strong>mos dizer que o po<strong>de</strong>r religioso na umbanda <strong>de</strong>corre disso, <strong>de</strong> uma<br />
inversão simbólica em que os estruturalmente inferiores na socieda<strong>de</strong> são<br />
<strong>de</strong>tentores <strong>de</strong> um po<strong>de</strong>r mágico particular, advindo da própria condição que<br />
possuem (BIRMAM, 1983, p. 46).<br />
Quem são então estas classes “estruturalmente inferiores” na socieda<strong>de</strong>? Trata-se<br />
do negro, do velho, do índio, da criança, do marginal, classes <strong>de</strong> indivíduos que, na<br />
Umbanda, são tipificadas e simbolizadas por entida<strong>de</strong>s espirituais. Traduzem-se então<br />
como pretos-velhos, caboclos, crianças, exus, e diversas outras entida<strong>de</strong>s que,<br />
<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ndo da orientação do terreiro, têm seu espaço <strong>de</strong>ntro do ritual umbandista.<br />
Fica assim estabelecido, portanto, os três elementos que <strong>de</strong>finem [o ritual <strong>de</strong>]<br />
Umbanda. O primeiro é o fenômeno da incorporação, que a distingue das<br />
religiões <strong>de</strong> veneração como o cristianismo; o segundo o trabalho com espíritos<br />
que são [consi<strong>de</strong>rados] marginalizados na socieda<strong>de</strong> “civilizada”, o que a<br />
distingue do Kar<strong>de</strong>cismo, que trabalha com entida<strong>de</strong>s consi<strong>de</strong>radas<br />
“evoluídas”, como médicos, padres etc., e do Candomblé, que trabalha<br />
diretamente com os orixás; e o terceiro a conversa direta entre a entida<strong>de</strong><br />
incorporada e o paciente que procura o centro <strong>de</strong> Umbanda, que a distingue do<br />
Candomblé, em que os orixás incorporados não conversam com os<br />
freqüentadores do culto (NOGUEIRA, 2005, p. 40).<br />
Portanto, o fenômeno da incorporação é o elemento chave para se compreen<strong>de</strong>r a<br />
religião umbandista, tanto do ponto <strong>de</strong> vista ritualístico quanto das crenças. Ele encerra<br />
em si a crença na comunicação com os espíritos, e é o ponto alto do ritual umbandista,<br />
quando <strong>de</strong>terminadas “classes” <strong>de</strong> espíritos “baixam” nos terreiros para praticarem a<br />
carida<strong>de</strong>, auxiliando e ajudando a quem os procura.<br />
Tais elementos foram se constituindo ao longo <strong>de</strong> toda a história da Umbanda,<br />
em um longo processo <strong>de</strong> assimilações, trocas, hibridações e também <strong>de</strong> repressões, que<br />
a fizeram tornar-se tão diversificada. Portanto, para que possamos compreen<strong>de</strong>r melhor<br />
a Umbanda em suas diversas práticas, se faz necessário visitarmos sua história e seu<br />
passado em nosso país, tarefa que realizaremos em nosso próximo capítulo.<br />
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