UMBANDA EM GOIÂNIA - Faculdade de História - UFG
UMBANDA EM GOIÂNIA - Faculdade de História - UFG
UMBANDA EM GOIÂNIA - Faculdade de História - UFG
Create successful ePaper yourself
Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.
Uma primeira crítica que se po<strong>de</strong> fazer a este mo<strong>de</strong>lo analítico é o caráter fluido<br />
do que ele chama <strong>de</strong> pólo umbandista. Quais são as características próprias da<br />
Umbanda? O Kar<strong>de</strong>cismo é uma religião <strong>de</strong>finida, que possui doutrina e ritual<br />
estabelecidos. Já a Umbanda não possui código ritual nem doutrinário estabelecido,<br />
ficando a cargo dos lí<strong>de</strong>res <strong>de</strong> terreiros e pais-<strong>de</strong>-santo a composição <strong>de</strong> seu ritual da<br />
forma que bem enten<strong>de</strong>m. Portanto, a <strong>de</strong>finição <strong>de</strong> um pólo umbandista, com um<br />
conjunto <strong>de</strong> características i<strong>de</strong>ntificáveis se torna absolutamente problemática <strong>de</strong>vido à<br />
gran<strong>de</strong> diversida<strong>de</strong> presente nesta religião.<br />
Para tentar superar estes problemas, Renato Ortiz propõe um novo mo<strong>de</strong>lo para<br />
este continuum. Ele critica o mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong> Cândido Procópio, alegando que o autor não<br />
distingue entre as diferentes funções sociais <strong>de</strong> cada uma das religiões do continuum,<br />
mas pelo contrário, ele mostra como Cândido Procópio afirma que “tanto a Umbanda<br />
quanto o Kar<strong>de</strong>cismo preenchem as mesmas funções [sociais no interior da socieda<strong>de</strong><br />
brasileira]” (ORTIZ, 1999, p. 95). Renato Ortiz complementa que, “só porque a<br />
Umbanda e o Kar<strong>de</strong>cismo são religiões mediúnicas não <strong>de</strong>vemos confundi-las <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong><br />
um mesmo continuum religioso” (ORTIZ, 1999, p. 96).<br />
Mesmo com estas críticas, Ortiz passa a utilizar a categoria do continuum<br />
mediúnico do autor, só que ressignificado. Segundo ele, para<br />
apreen<strong>de</strong>r a complexida<strong>de</strong> <strong>de</strong>ste ritual [umbandista], o consi<strong>de</strong>raremos como<br />
um gradiente religioso entre dois pólos: o mais oci<strong>de</strong>ntalizado e o menos<br />
oci<strong>de</strong>ntalizado. (...) O pólo menos oci<strong>de</strong>ntalizado se encontra mais próximo das<br />
práticas afro-brasileiras, enquanto o mais oci<strong>de</strong>ntalizado ten<strong>de</strong> a se distanciar<br />
(ORTIZ, 1999, p. 97).<br />
Percebemos assim que apesar da crítica colocada, Renato Ortiz continua a<br />
utilizar a teoria do continuum. Mas mesmo que tenha re<strong>de</strong>finido os pólos, ele não altera<br />
substancialmente a forma <strong>de</strong> análise dos centros, terreiros e tendas <strong>de</strong> Umbanda. Pelo<br />
contrário, sua análise é ainda mais problemática do que a <strong>de</strong> Cândido Procópio, pois<br />
sabemos que a conceituação do que é “oci<strong>de</strong>ntal” ou não é absolutamente artificial e<br />
fluida. Portanto, não po<strong>de</strong>mos saber quais são as características que envolvem o que é<br />
mais ou menos oci<strong>de</strong>ntalizado, ainda mais em se tratando <strong>de</strong> religiões, que como vimos,<br />
são híbridas por natureza, e, portanto, dinâmicas, sempre em transmutação.<br />
Outro autor a trabalhar o tema foi Lísias Negrão, que volta a utilizar o continuum<br />
como proposto por Cândido Procópio, mas para resolver o problema a que nos<br />
35