UMBANDA EM GOIÂNIA - Faculdade de História - UFG
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Colocado isto, a teoria da “pureza” cultural africana também cai por terra. Não<br />
existe cultura pura, como queriam os pesquisadores das religiões afro que analisamos.<br />
Como Ferretti coloca em sua obra,<br />
a respeito do tema da pureza africana, po<strong>de</strong>mos dizer do candomblé, como<br />
Leonardo Boff (1981, p. 54) em relação ao catolicismo oficial: “Este é tão<br />
sincrético como qualquer outra religião (...) o cristianismo puro não existe,<br />
nunca existiu nem po<strong>de</strong> existir. (...) O sincretismo, portanto, não constitui<br />
um mal necessário nem representa uma patologia da religião pura. É sua<br />
normalida<strong>de</strong>”. A idéia <strong>de</strong> pureza religiosa como vemos é um mito que alguns<br />
a<strong>de</strong>ptos procuram vivenciar no candomblé e que estudiosos procuraram<br />
evi<strong>de</strong>nciar (FERRETTI, 1995, p. 71, grifos nossos).<br />
Mundicarmo Ferretti complementa, referindo-se à<br />
inconseqüência <strong>de</strong> se procurar uma pureza na religião afro-brasileira, pela<br />
inexistência <strong>de</strong> cultura estática e dada a impossibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> uma religião trazida<br />
por escravos sobreviver mais <strong>de</strong> cem anos sem sofrer transformações e sem<br />
integrar elementos <strong>de</strong> outras religiões (FERRETTI, 1987, p. 161).<br />
Assim, ver o sincretismo como uma <strong>de</strong>formação em relação a uma religião<br />
consi<strong>de</strong>rada pura é algo completamente absurdo. Ao proce<strong>de</strong>r <strong>de</strong>sta forma, os<br />
pesquisadores das religiões afro-brasileiras partem do princípio <strong>de</strong> que a cultura é algo<br />
estático, e que po<strong>de</strong> manter-se sempre estagnada, sem sofrer influências nem alterações<br />
ao longo do tempo. Mas como colocou muito bem Ferretti, toda religião é sincrética por<br />
natureza, o sincretismo é sua normalida<strong>de</strong>. Isso significa que no cerne <strong>de</strong> toda religião<br />
existem elementos e influências <strong>de</strong> várias outras religiões diferentes, direta ou<br />
indiretamente.<br />
Vemos, portanto, que idéias como “pureza” e “<strong>de</strong>turpação” não fazem sentido<br />
quando tratamos <strong>de</strong> fenômenos culturais e religiosos. Por isto propomos buscar<br />
categorias <strong>de</strong> análises que mais se enquadrem na realida<strong>de</strong> <strong>de</strong> nosso objeto <strong>de</strong> pesquisa.<br />
Fomos buscar nas teorias pós-coloniais estas categorias e conceitos, que nos permitirão<br />
enxergar a Umbanda <strong>de</strong> uma forma mais atual e mais condizente com sua diversida<strong>de</strong>.<br />
1.2. Hibridismo: uma alternativa conceitual<br />
Um dos principais teóricos da corrente pós-colonial é o indiano Homi Bhabha,<br />
que propõe uma renovação nos estudos culturais a partir das teorias pós-coloniais. A<br />
chave <strong>de</strong> sua proposta está, primeiramente, em um <strong>de</strong>slocamento na própria<br />
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