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UMBANDA EM GOIÂNIA - Faculdade de História - UFG

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africanas e católica foram relativamente comuns, como nos <strong>de</strong>monstram inúmeros<br />

exemplos na historiografia.<br />

Um dos mais antigos <strong>de</strong>les nos é apresentado no livro Brasil <strong>de</strong> todos os Santos,<br />

<strong>de</strong> Ronaldo Vainfas e Juliana Beatriz <strong>de</strong> Souza (2002) que estudam rituais promovidos<br />

por índios <strong>de</strong> origem Tupi, que ficaram conhecidos como Santida<strong>de</strong>s, ocorridos no<br />

Brasil durante o século XVI, por volta dos anos <strong>de</strong> 1580. Vainfas e Juliana <strong>de</strong> Souza<br />

afirmam tratar-se <strong>de</strong> uma “antropofagia cultural” por parte dos indígenas, na qual o<br />

catolicismo era “assimilado à moda Tupi, canibalizado e <strong>de</strong>vorado como no repasto<br />

cerimonial” (SOUZA; VAINFAS, 2002, p. 16).<br />

Tratavam-se <strong>de</strong> rituais nos quais lí<strong>de</strong>res religiosos indígenas, os pajé-açu ou<br />

“gran<strong>de</strong> pajé” na cultura Tupi, andavam <strong>de</strong> al<strong>de</strong>ia em al<strong>de</strong>ia, em transe e embriagados<br />

com o fumo do tabaco realizando obras mágicas e pregando aos índios que parassem <strong>de</strong><br />

trabalhar. Esses personagens eram chamados por todos <strong>de</strong> “feiticeiros”, e Vainfas e<br />

Juliana <strong>de</strong> Souza nos apresentam <strong>de</strong>talhes <strong>de</strong> uma <strong>de</strong>stas manifestações, em que<br />

po<strong>de</strong>mos perceber o elemento católico associado às práticas indígenas:<br />

A mais importante <strong>de</strong>ssas “santida<strong>de</strong>s” ocorreu em Jaguaripe, ao sul do<br />

Recôncavo Baiano, li<strong>de</strong>rada por um índio que fugira do al<strong>de</strong>amento inaciano<br />

<strong>de</strong> Tinharé, nos Ilhéus. Chamava-se Antônio, nome <strong>de</strong> batismo, mas dizia ser<br />

Tamandaré, ancestral mítico dos Tupinambá. (...) [Entre outras coisas, ele]<br />

afirmava também ser o verda<strong>de</strong>iro papa, nomeava bispos e sacristãos,<br />

sagrava índios com o nome <strong>de</strong> santos, são Luiz, são Paulo, e tinha por<br />

principal esposa uma índia chamada “Santa Maria Mãe <strong>de</strong> Deus”. A<br />

santida<strong>de</strong> do “pontífice” Antônio erigiria uma igreja nos domínios <strong>de</strong> um<br />

senhor <strong>de</strong> engenho da Bahia (...), encenando rituais verda<strong>de</strong>iramente híbridos.<br />

Cerimônias <strong>de</strong> batismo com fumaça <strong>de</strong> tabaco ou com “os santos óleos”;<br />

bailes tribais e orações com rosários feitos <strong>de</strong> sementes <strong>de</strong> frutas;<br />

confissões em ca<strong>de</strong>iras <strong>de</strong> “um pau só” com sucções <strong>de</strong> fumo em longos<br />

caniços, num transe coletivo a um só tempo cristão e indígena (SOUZA;<br />

VAINFAS, 2002, p. 19, grifos nossos).<br />

Em outro caso, Luiz Mott em um artigo intitulado “Acotundá – Raízes<br />

setecentistas do sincretismo religioso afro-brasileiro”, nos apresenta o relato da<br />

<strong>de</strong>sarticulação <strong>de</strong> um “ritual religioso <strong>de</strong>dicado ao culto do <strong>de</strong>us pagão da nação Courá<br />

(Lagos, Nigéria), praticado no Arraial <strong>de</strong> Paracatu (Minas Gerais) e que no ano <strong>de</strong> 1747<br />

foi <strong>de</strong>smobilizado por um batalhão <strong>de</strong> capitães-do-mato.” (MOTT, 1988, p. 87). Tal<br />

relato se encontra presente em um processo da Inquisição, localizado no arquivo da<br />

Torre do Tombo, em Lisboa, Portugal.<br />

Segundo as testemunhas ouvidas no inquérito, o Acotundá ou Dança <strong>de</strong> Tunda é<br />

por ele <strong>de</strong>scrito da seguinte forma:<br />

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