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UMBANDA EM GOIÂNIA - Faculdade de História - UFG

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Para sobreviver, a Umbanda manteve o hibridismo como característica principal,<br />

o que permitiu que ela estabelecesse relações diferentes com pessoas cujos anseios eram<br />

bastante diferentes. É o que <strong>de</strong>monstram, por exemplo, as entrevistas realizadas com<br />

lí<strong>de</strong>res e frequentadores <strong>de</strong>sta religião, e analisadas por nós ao longo <strong>de</strong> nosso trabalho.<br />

Eles <strong>de</strong>monstram como pessoas <strong>de</strong> diferentes visões <strong>de</strong> mundo e nível tanto intelectual<br />

quanto econômico faziam parte <strong>de</strong> um mesmo grupo religioso. A Umbanda os unia em<br />

torno <strong>de</strong> um pensamento, que se não era homogêneo, pois nem a própria religião o é, ao<br />

menos po<strong>de</strong> ser i<strong>de</strong>ntificado como parte <strong>de</strong> uma gran<strong>de</strong> e diversificada cultura religiosa.<br />

Tudo isto contribuiu para a formação <strong>de</strong>sta religião como ela é hoje. Tudo isto<br />

fez com que ela se tornasse mais dinâmica, mais aberta, e consequentemente mais<br />

híbrida. Sem um código ritual e doutrinário <strong>de</strong>finido e unânime entre seus membros, a<br />

Umbanda cresceu <strong>de</strong>scentralizada, livre para misturar, para incorporar elementos<br />

diferentes, para agregar em seus rituais e em seu modo <strong>de</strong> enxergar o mundo, práticas e<br />

visões <strong>de</strong> outras religiões.<br />

Isto é o que <strong>de</strong>monstra sua história. As tentativas por parte das Fe<strong>de</strong>rações nunca<br />

conseguiram fechar a Umbanda em torno <strong>de</strong> algo único. Deriva daí sua força, sua<br />

energia vital, seu axé, que fez com que ela sobrevivesse durante o último século e<br />

chegasse ao século XXI <strong>de</strong> forma autônoma e in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte. Resi<strong>de</strong> ai a beleza da<br />

religião umbandista, no fato <strong>de</strong> que mesmo fragmentada, <strong>de</strong>scentralizada, ainda assim<br />

não <strong>de</strong>ixe <strong>de</strong> apresentar uma unida<strong>de</strong>, na medida em que in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte <strong>de</strong> como se<br />

apresenta o ritual nos vários terreiros existentes, todos possam se unir e se <strong>de</strong>finir como<br />

umbandistas.<br />

O papel das fe<strong>de</strong>rações, no entanto, vai além da simples tentativa <strong>de</strong> codificação<br />

da Umbanda. Elas <strong>de</strong>ram respaldo aos terreiros para que continuassem existindo e<br />

funcionando. As fe<strong>de</strong>rações foram as intermediadoras entre os diversos aparelhos<br />

repressivos e os terreiros, negociando e estabelecendo contatos entre eles. Ao mesmo<br />

tempo, elas agiram como aparelho repressor dos próprios terreiros, coibindo atos que<br />

consi<strong>de</strong>ravam “abusivos” e tentando imprimir, na medida do possível, uma i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong><br />

única aos trabalhos realizados por eles.<br />

Assim os terreiros <strong>de</strong> Umbanda, ao longo <strong>de</strong> sua história, viviam uma dupla<br />

repressão, por parte da socieda<strong>de</strong> (Estado, Imprensa, Catolicismo), e por parte das<br />

próprias fe<strong>de</strong>rações a que eram filiadas. Havia uma dupla relação entre terreiros e<br />

fe<strong>de</strong>rações, que se caracterizava pela proteção e ao mesmo repressão exercida por estas.<br />

Desta forma, as fe<strong>de</strong>rações tinham um papel ao mesmo tempo protetor e centralizador.<br />

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