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UMBANDA EM GOIÂNIA - Faculdade de História - UFG

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obra do fato <strong>de</strong> que as religiões evangélicas são conhecidas por seu caráter iconoclasta,<br />

ou seja, a <strong>de</strong> não venerar e até serem contrários ao uso <strong>de</strong> imagens. Basta recordarmos o<br />

caso do “chute na santa”, que aconteceu no Brasil em 1995, no dia 12 <strong>de</strong> outubro,<br />

quando um pastor da Igreja Universal (IURD) chutou a imagem <strong>de</strong> Nossa Senhora<br />

Aparecida em programa transmitido em re<strong>de</strong> nacional pela Re<strong>de</strong> Record <strong>de</strong> Televisão<br />

(ALMEIDA, 2007, p. 171).<br />

Assim, inicialmente o pastor apenas afirma que <strong>de</strong>veriam ser trocadas as<br />

imagens dos Orixás por imagens católicas <strong>de</strong> presépios e enfeites natalinos. Segundo<br />

Marcos Paulo, o motivo <strong>de</strong>sta recomendação, haja vista que os evangélicos sempre<br />

tiveram um discurso contrário ao uso <strong>de</strong> qualquer imagem <strong>de</strong> cunho religioso, se <strong>de</strong>ve<br />

ao que o pesquisador chama <strong>de</strong> uma “gradação <strong>de</strong> periculosida<strong>de</strong>”:<br />

Por que, então, trocar imagens <strong>de</strong> Orixás por imagens católicas? Porque como<br />

já afirmei anteriormente (...), “os evangélicos <strong>de</strong>finem certo tipo <strong>de</strong> gradação<br />

<strong>de</strong> periculosida<strong>de</strong> a ser aplicada àqueles que não compartilham com sua visão<br />

<strong>de</strong> mundo. Deste modo, um católico seria menos herético que um espírita<br />

kar<strong>de</strong>cista, o qual por sua vez representa menor perigo ante a presença <strong>de</strong> um<br />

‘macumbeiro’ reconhecido, seja umbandista ou candomblecista” (RAMOS,<br />

2007, p. 62).<br />

No entanto, tal discurso não surte o efeito <strong>de</strong>sejado. Pelo contrário, vozes em<br />

contrário à atitu<strong>de</strong> dos evangélicos se levantam nestes mesmos jornais. As principais<br />

<strong>de</strong>las se aglutinam em torno do catolicismo, do espiritismo, e do próprio governo, que<br />

se nega a retirar as estátuas do local como era a vonta<strong>de</strong> dos manifestantes, além é claro<br />

das próprias religiões afro, vítimas da ação dos evangélicos, como <strong>de</strong>monstra<br />

reportagem do mesmo jornal:<br />

O monsenhor João Daiber, vigário-geral da Arquidiocese <strong>de</strong> Goiânia, diz que é<br />

preciso haver (sic) o respeito entre as religiões. Ele não vê necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> as<br />

esculturas serem retiradas do Vaca Brava. “Há exagero, pois os orixás<br />

representam uma cultura”. Daiber questiona o motivo dos evangélicos estarem<br />

tão incomodados com as esculturas: “E os presépios? Todo Natal há esse tipo<br />

<strong>de</strong> imagem no parque e eles nunca se manifestaram contra”. O presi<strong>de</strong>nte da<br />

Fe<strong>de</strong>ração Espírita do Estado <strong>de</strong> Goiás, Weimar Muniz, também não acha que<br />

os orixás <strong>de</strong>vam ser retirados do local. “Temos que respeitar nossos<br />

semelhantes, sobretudo no campo religioso, embora pensemos <strong>de</strong> formas<br />

diferentes”, afirma. E acrescenta: “Não se po<strong>de</strong> esquecer que a liberda<strong>de</strong><br />

religiosa é garantida pela Constituição fe<strong>de</strong>ral. Cada um <strong>de</strong>verá respon<strong>de</strong>r pelos<br />

atos ilícitos que praticar.” O sacerdote da Casa Alan Buru (do Candomblé),<br />

Elmo Rocha, se diz assustado com o retrocesso histórico em questão. “É<br />

alienação racista, com elementos preconceituosos. É uma forma <strong>de</strong> instigar<br />

uma guerra santa”. Ele ressalta o caráter cultural da exposição e a importância<br />

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