UMBANDA EM GOIÂNIA - Faculdade de História - UFG
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em uma óbvia aproximação com a figura do Diabo na tradição judaico-cristã”<br />
(OLIVA, 2005, p. 24). Já Dopamu realça apenas alguns aspectos <strong>de</strong>sta<br />
entida<strong>de</strong>, como o fato <strong>de</strong> ele ser “o agente do <strong>de</strong>sequilíbrio e da <strong>de</strong>sor<strong>de</strong>m”, e<br />
sua personalida<strong>de</strong> “libidinosa, contraventora e perversa”, que, para ele, são<br />
sintomas <strong>de</strong> sua malda<strong>de</strong>. Exu, inserido num mundo maniqueísta, on<strong>de</strong> temos<br />
dois pólos distintos – o bem e o mal – passa a ocupar então o lado maligno, e<br />
passa a representar a personificação da malda<strong>de</strong>. (NOGUEIRA; OLIVEIRA,<br />
2006, p. 12-13).<br />
Po<strong>de</strong>mos observar assim que<br />
nos trabalhos dos sacerdotes, <strong>de</strong> forma geral, houve uma transposição das<br />
mentalida<strong>de</strong>s e concepções religiosas oci<strong>de</strong>ntais para o entendimento das<br />
cosmologias africanas. Como no imaginário cristão todas as formas <strong>de</strong> mal e <strong>de</strong><br />
influências negativas na vida das pessoas e na or<strong>de</strong>m do mundo são associadas<br />
ao Diabo, suas análises sobre a cosmologia dos orixás passaram a estabelecer a<br />
mesma relação. Percebe-se, portanto, que a relação entre Exu e o Diabo foi<br />
uma criação <strong>de</strong> sacerdotes cristãos ou muçulmanos, seguida e <strong>de</strong>fendida por<br />
seus fiéis. (OLIVA, 2005, p. 26).<br />
No Brasil tais i<strong>de</strong>ias e preconceitos ganharam novos contornos e foram<br />
intensificadas ao longo da história do negro africano trazido para nossas terras,<br />
marcando o surgimento e expansão das religiões afro-brasileiras, como vimos no<br />
segundo capítulo. A divinda<strong>de</strong> Exu, cultuada nos Calundus e Macumbas brasileiras,<br />
acaba se transmutando em duas entida<strong>de</strong>s diferentes, com características bem diversas.<br />
Enquanto no Candomblé Exu mantém seu status <strong>de</strong> Orixá, divinda<strong>de</strong> cultuada e com<br />
características muito parecidas com aquelas que ele possuía em África, na Umbanda<br />
Exu se transformou em uma entida<strong>de</strong>, uma alma <strong>de</strong> alguém que já morreu, como todas<br />
as outras entida<strong>de</strong>s da Umbanda, e assume, em partes, esta associação com o <strong>de</strong>mônio.<br />
Imagem esta, no entanto, ressignificada pela i<strong>de</strong>ologia kar<strong>de</strong>cista, que o insere na<br />
doutrina da evolução dos espíritos na qual ele passa a ocupar as escalas mais baixas da<br />
hierarquia espiritual.<br />
Para os umbandistas, Exu é espírito em evolução, por isto po<strong>de</strong> fazer tanto o<br />
bem quanto o mal. Aqui ele já não é mais um <strong>de</strong>us, como no Candomblé e na mitologia<br />
africana, mas sim alguém que viveu na Terra e que após sua morte, <strong>de</strong>vido aos seus<br />
crimes aqui cometidos, é obrigado a voltar e trabalhar nos terreiros <strong>de</strong> Umbanda para<br />
pagar suas dívidas pela prática da carida<strong>de</strong>. No entanto, nem todos os espíritos que se<br />
tornam Exus têm esta noção, e muitos acabam utilizando seu po<strong>de</strong>r para aten<strong>de</strong>r pedidos<br />
que contrariam a moral cristã e espírita, fazendo trabalhos para prejudicar outras<br />
pessoas.<br />
Todas estas características são recorrentes no discurso umbandista a respeito<br />
<strong>de</strong>sta entida<strong>de</strong>:<br />
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