UMBANDA EM GOIÂNIA - Faculdade de História - UFG
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assimilada pela nação umbandista. Basta percorrer as floras e bazares umbandistas em<br />
busca das estátuas <strong>de</strong>stas entida<strong>de</strong>s para perceber esta aproximação.<br />
A <strong>de</strong>monização <strong>de</strong>stas entida<strong>de</strong>s remonta aos primeiros contatos entre<br />
missionários europeus e povos africanos, ainda no continente africano, no início do<br />
século XIX. Este era consi<strong>de</strong>rado pelos europeus, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> o final da Ida<strong>de</strong> Média, como<br />
sendo um lugar on<strong>de</strong> reinava a selvageria e a barbárie. Justificavam tais visões diversas<br />
crenças, <strong>de</strong> cunho bíblico e religioso, como a crença dos <strong>de</strong>scen<strong>de</strong>ntes <strong>de</strong> Cam. Segundo<br />
a Bíblia, Cam era filho <strong>de</strong> Noé, e fora castigado por seu pai por flagrá-lo nu e<br />
embriagado, tendo sua <strong>de</strong>scendência con<strong>de</strong>nada a servir aos seus irmãos (OLIVA,<br />
2005). A África seria, portanto, a região habitada pelos <strong>de</strong>scen<strong>de</strong>ntes <strong>de</strong> Cam, que<br />
<strong>de</strong>veriam servir aos outros homens.<br />
No século XIX, teorias “científicas” vêm ressaltar o imaginário negativo a<br />
respeito do continente africano e <strong>de</strong> seus habitantes <strong>de</strong> pele negra. Entre estas teorias<br />
po<strong>de</strong>mos citar a teoria classificatória <strong>de</strong> Linneu e Gobineau, que classificavam a raça<br />
humana em cinco tipos diferentes, cada um contando com características físicas, morais<br />
e psicológicas inerentes. Entre estas “raças”, po<strong>de</strong>mos <strong>de</strong>stacar o contraste entre as<br />
características associadas ao Europeu e ao Africano:<br />
c) Europeu: Claro, sanguíneo, musculoso; cabelo louro, castanho, ondulado;<br />
olhos azuis; <strong>de</strong>licado, perspicaz, inventivo. Coberto por vestes justas.<br />
Governado por leis. (...)<br />
e) Africano: Negro, fleumático, relaxado. Cabelos negros, crespos; pele<br />
acetinada; nariz achatado, lábios túmidos; engenhoso, indolente, negligente.<br />
Unta-se com gordura. Governado pelo capricho (BURKE, 1972, p. 266-7 92<br />
apud HERNANDEZ, 2005, p. 19).<br />
Construções i<strong>de</strong>ológicas como esta foram responsáveis pela imagem negativa<br />
que se construiu a respeito do continente africano e <strong>de</strong> seus povos, especialmente os <strong>de</strong><br />
pele negra. Elas serviram como justificativa para diversos atos <strong>de</strong> barbárie praticados<br />
contra estes povos, como o tráfico colonial <strong>de</strong> escravos e os regimes <strong>de</strong> separação e<br />
opressão, como o praticado pelos bôeres na África do Sul, sistema conhecido como<br />
Apartheid. No campo religioso não po<strong>de</strong>ria ser diferente. As práticas religiosas dos<br />
africanos eram consi<strong>de</strong>radas como simples magia, e vistos por cristãos e muçulmanos<br />
como diabólicas, maléficas.<br />
92 BURKE, John G. The wild man’s pedigree. In: DUDLEY, Edward; NOVAK, Maximilian. The white<br />
man within. Pettsburgh U.P., 1972, p. 266-7 apud PRATT,Mary Louise. Os olhos do império: relatos <strong>de</strong><br />
viagem e transculturação. Bauru/São Paulo: Edusc, 1999, p. 68.<br />
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