UMBANDA EM GOIÂNIA - Faculdade de História - UFG
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mim, portanto, tudo o que diz respeito a esta religião e à sua prática sempre foi algo<br />
muito natural, nunca tive o “estranhamento” a que se referem outros pesquisadores da<br />
área na hora <strong>de</strong> fazer meu trabalho <strong>de</strong> campo. Por outro lado, consi<strong>de</strong>ro que o fato <strong>de</strong> ser<br />
“<strong>de</strong> <strong>de</strong>ntro” da religião tenha me facilitado e muito o entendimento que tenho <strong>de</strong>sta<br />
religião.<br />
Estranhos caminhos me levaram ao campo da <strong>História</strong>, e ao ser impelido por<br />
meus antigos mestres a escolher um objeto <strong>de</strong> pesquisa, a Umbanda surgiu diante <strong>de</strong><br />
mim como a possibilida<strong>de</strong> mais óbvia. Mas o que antes parecia um facilitador, mostrou-<br />
se uma perigosa armadilha. Como realizar um trabalho histórico, um trabalho <strong>de</strong><br />
pesquisa que se preten<strong>de</strong> científico, sem que esbarremos no problema da neutralida<strong>de</strong>,<br />
ou seja, evitando fazer um trabalho apologético? A primeira dificulda<strong>de</strong>, portanto, surge<br />
exatamente do fato <strong>de</strong> pertencer ao mesmo mundo <strong>de</strong> meu objeto.<br />
Tal dificulda<strong>de</strong>, no entanto não me causou gran<strong>de</strong>s problemas. Ao expandir os<br />
limites <strong>de</strong> meu conhecimento da religião, pu<strong>de</strong> ter uma visão mais ampla <strong>de</strong>la, e <strong>de</strong> certa<br />
forma, pu<strong>de</strong> ter a sensação <strong>de</strong> “estranhamento” do pesquisador frente a um novo objeto.<br />
Isto porque, como se verá ao longo <strong>de</strong>sta pesquisa, a Umbanda é uma religião muito<br />
diversificada, tendo inúmeras ritualísticas diferentes que variam <strong>de</strong> um terreiro para<br />
outro. Ao me <strong>de</strong>parar com esta diversida<strong>de</strong>, percebi que eu conhecia apenas uma<br />
mínima parte <strong>de</strong>sta religião, e que ela escondia inúmeros outros mistérios a serem<br />
<strong>de</strong>svendados.<br />
Pu<strong>de</strong>, a partir <strong>de</strong> então, conhecer um pouco mais do universo religioso<br />
umbandista. Visitas <strong>de</strong> campo a outros terreiros, entrevistas com lí<strong>de</strong>res e<br />
freqüentadores da religião e, claro, as leituras acadêmicas foram aos poucos<br />
modificando a visão que eu tinha da Umbanda. Tive que fazer o exercício <strong>de</strong> <strong>de</strong>ixar <strong>de</strong><br />
lado um pouco minhas concepções religiosas, para adotar a postura do pesquisador,<br />
crítico e até certo ponto imparcial. Meus conhecimentos anteriores sobre a Umbanda se<br />
mostraram úteis na hora <strong>de</strong> lidar com termos, expressões e práticas da religião; mas por<br />
outro lado, se mostraram conflituosos ao entrar em contato com outras práticas e<br />
explicações que eram completamente diferentes daquela que eu mesmo estava<br />
habituado. Minha primeira dúvida foi: como <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> uma única religião encontramos<br />
visões <strong>de</strong> mundo, doutrinas, rituais e práticas totalmente diferentes e, às vezes até<br />
mesmo antagônicas?<br />
Para superar este problema busquei nos principais autores a estudarem esta<br />
religião, teorias que me permitissem compreendê-la e abarcar toda sua diversida<strong>de</strong>. Me<br />
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