UMBANDA EM GOIÂNIA - Faculdade de História - UFG
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João <strong>de</strong> Abuk, pioneiro do Candomblé no estado, realizando a tradicional Procissão dos<br />
Pretos-Velhos, da Praça do Trabalhador à Praça Cívica, seguindo pela Av. Goiás.<br />
Voltando à década <strong>de</strong> 1990, neste período a Fe<strong>de</strong>ração continuou com seu<br />
trabalho <strong>de</strong> fiscalização e apoio aos terreiros. Eram feitas visitas mensais aos centros e<br />
terreiros <strong>de</strong> Umbanda da capital e do interior, com o objetivo <strong>de</strong> encontrar<br />
irregularida<strong>de</strong>s ou práticas que fugissem ao padrão imposto pela FUEGO. É o caso, por<br />
exemplo, <strong>de</strong> uma irmã chamada Francisca, que “fez visitas e encontrou coisa horrorosa,<br />
sem a mínima condição (sic) <strong>de</strong> funcionamento, temos que conscientizar a nossa nação<br />
que somos espíritas e não católicos”. Para coibir este tipo <strong>de</strong> coisas, a presente ata<br />
prometia que “muito em breve será acionado advogado para punição dos terreiros em<br />
anonimato” 78 .<br />
Em outra reunião, um membro do Conselho Fiscal informa “sobre as visitas<br />
realizadas e as dificulda<strong>de</strong>s encontradas para aten<strong>de</strong>r o nível dos trabalhos, ou melhor,<br />
entregas (<strong>de</strong>spachos), vistos a olhos nus” 79 Apesar das reclamações, não há registro <strong>de</strong><br />
qualquer centro ou terreiro que tenha sido notificado, repreendido ou mesmo fechado,<br />
como algumas vezes chegavam a ameaçar alguns membros da Fe<strong>de</strong>ração.<br />
Além disto, a própria Fe<strong>de</strong>ração reconhecia a existência <strong>de</strong> inúmeros terreiros<br />
que trabalhavam “em anonimato”, ou seja, sem o reconhecimento da Fe<strong>de</strong>ração, que, no<br />
entanto, não tinha po<strong>de</strong>r “aquisitivo” para impedir o funcionamento <strong>de</strong>les, como o<br />
próprio Sr. Elmo Rocha admite em entrevista:<br />
Elmo: E a nossa Fe<strong>de</strong>ração, ela não tem como, ela não tem po<strong>de</strong>r aquisitivo<br />
para manter o organismo que seria o fiscalizador, o orientador, para estar<br />
fazendo a triagem <strong>de</strong>ssas diversas casas, enten<strong>de</strong>? Que a orientação... o nosso<br />
intuito não é a repressão, a Fe<strong>de</strong>ração nunca, assim, para ela chegar ao<br />
momento <strong>de</strong> repressão tem que esbarrar nos mandamentos...<br />
Eliesse: Que repressão? Po<strong>de</strong>ria fazer essa repressão?<br />
Elmo: Po<strong>de</strong>ria através do po<strong>de</strong>r público, por que não?<br />
Eliesse: A Fe<strong>de</strong>ração po<strong>de</strong>ria reprimir o que?<br />
Elmo: Com certeza! Po<strong>de</strong>ria reprimir as questões <strong>de</strong> <strong>de</strong>sor<strong>de</strong>m moral, por<br />
exemplo, qualquer Igreja po<strong>de</strong> reprimir isso, como já houve casos <strong>de</strong> pessoas<br />
usando o nome da religião para praticar atos imorais <strong>de</strong> sexo no meio da<br />
ritualística, após os momentos, os horários normais 80 .<br />
A Fe<strong>de</strong>ração assim tentava fazer esta fiscalização junto aos centros e terreiros,<br />
mas seus próprios membros admitem que ela não tinha po<strong>de</strong>r aquisitivo para efetivar<br />
78<br />
Ata <strong>de</strong> Reunião Mensal da Diretoria da FUEGO <strong>de</strong> 07/07/91. In: Livro <strong>de</strong> Atas da Diretoria Executiva,<br />
Goiânia, 05/01/91.<br />
79<br />
Ata da Reunião Mensal da diretoria da FUEGO – 07/09/91. In: Livro <strong>de</strong> Atas da Diretoria Executiva,<br />
Goiânia, 05/01/91.<br />
80<br />
Entrevista com Sr. Luís Fernan<strong>de</strong>s Salles e Elmo Rocha, realizada em 16/11/06 por Eliesse Scaramal.<br />
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