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Milton Mauro Mallet Aleixo<br />
Reflexos Lentos, porém<br />
Descoordenados<br />
Milton Mauro Mallet Aleixo<br />
Nos anos de 1970, 71 e 72, no Centro de Formação de Pilotos<br />
Militares (CFPM), na cidade de Natal, eu era Instrutor de Vôo.<br />
No nosso grupo de Instrutores, na maioria tenentes, havia os oriundos<br />
do 5º Grupo de Aviação, ali mesmo de Natal (como eu), e os que<br />
vieram de Fortaleza, da Aviação de Caça.<br />
No primeiro ano, 1970, tudo era novidade. Era quando o Instrutor<br />
aprendia os segredos do ofício. Havia as dificuldades de iniciante, muito<br />
susto, mas a gente procurava destacar o lado cômico do cotidiano, as<br />
situações inusitadas. E isso acontecia “de montão”.<br />
Cada Instrutor recebia, no início da instrução, quatro Alunos.<br />
Era preciso aprender rapidamente as diferenças entre o temperamento<br />
de cada um, tudo isso na base do autodidatismo. Havia, no<br />
entanto, uns poucos que se revelavam difíceis de conduzir. Eu tive<br />
um desses no meu plantel.<br />
Era um “alemãozão” esquisitão, que me fez passar uns belos<br />
sustos. Numa dessas ocasiões, eu estava de serviço de Oficial-de-<br />
Dia, quando meu Chefe (mui amigo!) mandou um colega para ficar<br />
temporariamente no meu lugar, para que eu fizesse uma missão<br />
com o alemão.<br />
E logo que missão! Era uma tal de P1, quarenta minutos de<br />
parafusos até o Aluno aprender a fazer. Se eu morresse, minha mulher<br />
teria ficado encrencada, pois eu não poderia estar voando, já que<br />
estava de serviço de Oficial-de-Dia, ou seja, tinha que dar certo.<br />
Esse mesmo Aluno já tinha sido contemplado por mim com algumas<br />
Fichas, que eram lidas pelo Oficial de Operações do Esquadrão<br />
para a galera de Instrutores, nas reuniões das sextas-feiras, pelo<br />
tom enfático com o qual descreviam as manobras. Exemplo: “Orientado<br />
a fazer uma curva de grande inclinação, o Aluno quase<br />
entrou em parafuso, tendo repetido inúmeras vezes a mesma situação<br />
ante os olhares estupefatos do Instrutor”. Outro exemplo:<br />
“Solicitado a fazer um oito sobre cruzamento, não conseguia<br />
corrigir o vento. Esforçou-se, debalde”.<br />
Id. em Dest., Rio de Janeiro, (<strong>20</strong>) : 91-92, jan./abr. <strong>20</strong>06<br />
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