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Araken Hipólito da Costa<br />
b) a Bíblia, única fonte de fé, sujeita ao livre exame;<br />
c) a negação de intermediários entre Deus e o crente.<br />
Psicologicamente, o que trouxe a reforma ao Ocidente foi o<br />
individualismo. O espírito do livre exame, em nome do qual se operou<br />
a insurreição contra a autoridade religiosa, em matéria escriturística,<br />
exorbitou do terreno religioso e alcançou todos os demais. Ao reinado<br />
do dogma, sucedeu o reinado da opinião. À autoridade da Igreja,<br />
sucedeu a do crente. A obediência à lei, substituiu-se pelo domínio da<br />
vontade. Ao organismo medieval, o individualismo moderno. Todas<br />
as manifestações da atividade humana no Ocidente, com destaque<br />
nas Artes Plásticas durante os séculos que mediaram entre a reforma<br />
e os nossos dias, estão dominados por essa primazia crescente do<br />
indivíduo sobre a sociedade.<br />
Foi, entretanto, o Renascimento, que fez da volta ao pensamento,<br />
às formas estéticas e aos modelos políticos antigos uma das novas<br />
civilizações. Assim, tinham de lutar por uma nova forma de expressão,<br />
diferente da clássica, assim como da medieval, mas relacionada<br />
a ambas e devedora de ambas.<br />
Uma das descobertas mais significativas da História da Arte foi<br />
o método de criar ilusão de profundidade numa superfície plana –<br />
chamado perspectiva, que veio a ser a base da pintura européia nos<br />
quinhentos anos seguintes. A perspectiva implica em que as relações<br />
existentes são puramente matemáticas. Através dela, percebemos já<br />
uma noção cara ao mundo moderno: a correta concepção da realidade<br />
é matemática, onde as relações qualitativas, presentes na antigüidade<br />
e no medievo, cedem lugar às quantitativas. Como o olhar do<br />
pintor está fora do quadro retratado, analogamente o olhar do sujeito<br />
passa a conhecer a realidade, tornando-se referência.<br />
A descoberta da tinta a óleo pelo pintor flamengo Van Eyck<br />
(1422) tornou-se por excelência o meio da Renascença, pois permitiu<br />
o aumento das opções de cores, com suaves nuances de tonalidades,<br />
o que permitia aos pintores representar texturas e simular formas em<br />
três dimensões.<br />
Neste período, os artistas deixaram de pintar na madeira, por<br />
ser uma base pesada, desconfortável e de preparo demorado. Eles<br />
passaram a trabalhar sobre uma tela esticada numa estrutura leve: o<br />
chassi, que facilitava o seu transporte e era um meio mais fácil de<br />
alcançar a burguesia que surgia.<br />
80 Id. em Dest., Rio de Janeiro, (<strong>20</strong>) : 79-81, jan./abr. <strong>20</strong>06