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Ideias nº 20 - incaer

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Manuel Cambeses Júnior<br />

A ruptura se processa quando a barbárie atinge o centro com<br />

força suficiente para se impor. Não se trata, portanto, de algo que resulte<br />

de um determinismo. Nem toda periferia está fadada a chegar ao<br />

centro, nem toda a barbárie está vocacionada para chegar à cultura.<br />

Trata-se de um fenômeno de natureza similar ao da fecundação. A<br />

busca não é a materialização. Assim como só o mais competente<br />

espermatozóide é que pode aspirar fecundar o óvulo, assim, também,<br />

só a mais competente barbárie é que pode aspirar provocar ruptura.<br />

Não é a periferia que rompe o centro; é a barbárie mais competente.<br />

Da análise procedida verifica-se que a barbárie mais competente<br />

tem duas características claras: em primeiro lugar, um alto grau<br />

de coesão social e uma posição contestatória da cultura dominante.<br />

Para se chegar ao centro se tem de ter coesão social e se tem de ser<br />

contestatório. Periferias alinhadas nunca chegaram ao centro.<br />

Outro ponto muito importante é o fato de que o centro nem<br />

sempre é a cultura, pois essa só consegue preencher, plenamente,<br />

suas funções atratora e organizadora no centro, ou melhor dizendo,<br />

quando a antiga periferia passa a ser o novo centro. É por isso que o<br />

começo de um novo centro é sempre na barbárie. Por isso é que a<br />

cultura do antigo centro sempre é absorvida pelo novo centro.<br />

Esse choque entre periferia e centro, que é a condição para o<br />

sucesso do processo civilizatório, exige, do lado da barbárie, uma ação<br />

ordenadora para processar a ruptura, e um alto grau de coesão social.<br />

E essa ação ordenadora resulta dos pactos que se processam no<br />

âmbito das sociedades periféricas. Resulta, hoje, dada a complexidade<br />

das questões postas, de acordos que só poderão se processar no<br />

âmbito do Estado-Nação.<br />

Esta é a razão pela qual enfatizamos neste ensaio o tema do<br />

Estado-Nação, também chamado por alguns de Estado Nacional. Por<br />

que Estado-Nação? Por que não simplesmente Estado? Ou por que<br />

não simplesmente Nação? Porque nem Nação, nem Estado são a<br />

mais elaborada ordenação humana na vida política e nem sozinhos<br />

foram capazes de alterar, nos últimos quatrocentos anos, as relações<br />

no centro e na cultura. E nem o serão nos próximos cem anos. Isto<br />

porque o conceito de Nação é uma abstração contemplativa, apesar<br />

de mobilizadora, e o conceito de Estado é uma abstração mobilizadora,<br />

apesar de contemplativa. Mas, no Estado-Nação, contemplação e<br />

mobilização se juntam, tornando possível a realização coletiva, tan-<br />

76 Id. em Dest., Rio de Janeiro, (<strong>20</strong>) : 72-78, jan./abr. <strong>20</strong>06

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