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Manuel Cambeses Júnior<br />
Os árabes eram cultos, a Península Ibérica era bárbara.<br />
Veio o tempo;<br />
A Península Ibérica era o centro, a Inglaterra era a periferia.<br />
A Península Ibérica era culta, a Inglaterra era bárbara.<br />
Veio o tempo;<br />
A Inglaterra era o centro, a América era a periferia.<br />
A Inglaterra era culta, a América era bárbara. Veio o tempo;<br />
A América é o centro. A América é culta. O tempo virá...<br />
Esses versos, além de mostrarem, de forma singela, o predomínio<br />
sempre transitório no processo civilizatório, mostram, de forma<br />
inequívoca, a ruptura e o estabelecimento de uma nova ordem, sucessivas<br />
vezes, no decorrer deste processo.<br />
A simplificação estabelecida permite ainda concluir que a dinâmica<br />
do processo civilizatório, que aqui foi nomeado como teoria do<br />
retardo, pode ser assim resumida: toda periferia busca o centro e<br />
toda a barbárie busca a cultura.<br />
O centro exerce sobre a periferia dois papéis: o de repulsor e o<br />
de articulador. O centro não tem a dinâmica, que é atributo exclusivo<br />
da periferia. O centro deve ser sempre visto como um castelo sitiado.<br />
O papel de repulsor do centro repousa na capacidade que desenvolve<br />
de repelir o que aqui nomearemos de forças de atração ou<br />
de avanço, e que resultam da busca do centro pela periferia. Dentre<br />
essas, podemos citar: a migração, o comércio, o fluxo de idéias etc.<br />
Quanto mais bem sucedido for o centro na repulsão dessas forças, na<br />
transformação delas em forças centrífugas, maior sucesso poderá<br />
ter o centro em permanecer centro.<br />
O papel de articulador do centro reside na capacidade que desenvolve<br />
de organizar as forças caóticas que existem na periferia, no<br />
sentido de compô-las, objetivando minimizar sua resultante, buscando<br />
uma soma zero, o que, em muito, pode também contribuir para seu<br />
papel de repulsor.<br />
Já a cultura, esta exerce, sobre a barbárie, dois outros papéis: o<br />
de atrator e o de organizador.<br />
A função de atrator da cultura, algo imanente, é o que movimenta<br />
as sociedades, fornece a dinâmica ao processo e provoca a atração da<br />
periferia para o centro. A função de organizador dá, à cultura, a capacidade<br />
de vetorizar a barbárie, de acordo com seus interesses.<br />
Id. em Dest., Rio de Janeiro, (<strong>20</strong>) : 72-78, jan./abr. <strong>20</strong>06<br />
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