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Marcelo Hecksher<br />
Se assim o fizesse, por exemplo, a província de Xinjiang (capital<br />
Urumqi), rica em petróleo – onde a nacionalidade Uygur é maioria<br />
(apenas 12% de chineses Han) – província fronteiriça com os países<br />
do “ão” (Kazaquistão, Uzbesquistão, Tajaquistão, Kyrquistão,<br />
Paquistão e Afeganistão), estaria ela hoje sobre o controle político de<br />
um regime muçulmano xiita.<br />
Permitir tal fato em um país com as dimensões da China seria<br />
uma temeridade. E contra a política de controle religioso na região<br />
de Xinjiang, as potências ocidentais não levantam a voz, pois estão<br />
interessadas no petróleo da Bacia do Tarin, no deserto do Talamakan.<br />
No início do século XX, no sul da China, surgiu um movimento<br />
religioso no qual seu líder se denominava “Filho de Deus”.<br />
Foram três anos de lutas intensas, uma vez que esse movimento<br />
pregava a criação de uma nação independente.<br />
É o exemplo típico da influência religiosa na vida política,<br />
que se dá no Oriente, onde os movimentos religiosos são escapes<br />
para os sofrimentos da vida cotidiana, mas não trazem a solução<br />
para os problemas sociais vividos.<br />
Conclusão<br />
Por minha cultura e formação, sinto grande dificuldade em<br />
emitir opinião, isento de preconceito ou deslumbrado pela realidade<br />
visível, apesar de lá ter vivido e procurado estudar a História e<br />
acompanhar a evolução política da China.<br />
Não há como aceitar conceitos da democracia ocidental como<br />
válidos para aplicação na China de hoje. Como implantar, por<br />
exemplo, um Poder Judiciário aos moldes dos existentes nos países<br />
ocidentais, para 1,3 bilhão de habitantes, com várias instâncias<br />
e tribunais especializados?<br />
O ritmo da abertura política não pode ser ditado pelos países<br />
ocidentais, pelo modelo americano. A experiência da Rússia e,<br />
mais recentemente, a do Iraque demonstram que a cultura não<br />
pode ser desprezada e que a História não pula capítulos.<br />
Pensar em permitir a influência religiosa no estado chinês é<br />
uma temeridade. Como admitir liberdade religiosa plena, se as religiões<br />
pregam mudanças sociais (que devem ocorrer) sem que<br />
ocorram no ritmo da cultura do país?<br />
Id. em Dest., Rio de Janeiro, (<strong>20</strong>) : 42-48, jan./abr. <strong>20</strong>06<br />
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