Ideias nº 20 - incaer

Marcelo Hecksher
E essa caminhada não podia envolver erros estruturais. A China
viveu isolada – ou praticamente isolada – do mundo não comunista até
à abertura econômica. Os seus cinco mil anos de História documentada
haviam esgotado o seu poder de contrapor a cultura chinesa ao
desenvolvimento do Ocidente. O controle das comunicações passou a
ser fundamental, em face do volume de informações que passou a
transitar pelos meios eletrônicos, particularmente pela Internet, e o seu
reflexo explosivo na mudança de paradigmas da população envolvida.
Até 1997, o exemplo de militar chinês era o Soldado Li Pen.
Corajoso, leal, obediente, forte, tinha a sua imagem utilizada em
todas as propagandas do Exército Popular de Libertação (EPL).
Em 1997, essa imagem mudou. Foi escolhido para tal um capitãode-corveta
da Marinha do EPL, engenheiro, fluente em inglês,
informatizado, culto e pai de uma família tradicional: mulher e um
filho. Este fato é importante, em face do que representam as imagens
e símbolos na cultura chinesa.
Um país de 1,3 bilhão de habitantes, que deixou de ser império
no ano de 1912, que até à consolidação da República Popular em
1949 sofreu revoluções, Guerra Sino-Japonesa, Segunda Guerra
Mundial, e, posteriormente, Guerra da Coréia, ameaça das forças
republicanas a partir de Taiwan, ameaça de separação do Tibet, motivada
por ações da Inglaterra a partir da Índia, guerra com o Vietnã,
que viveu a Guerra Fria em toda a sua intensidade, não pode se dar
ao luxo de não ter sucesso. Não pode ser pensado como se pensa
uma potência de 250 milhões de habitantes, com, praticamente, a
mesma área geográfica, com mais que o dobro de terras
agriculturáveis, com recursos minerais em nível muito superior,
posicionada no eixo desenvolvido do mundo ocidental.
No XV Congresso do PCC, realizado em 1995, a China traçou
o seu futuro: ser uma potência mundial no ano de 2015. Vinte anos de
desenvolvimento continuado, preparando e educando uma geração
para absorver a moderna tecnologia desenvolvida na China ou comprada
(ou roubada – observação do autor). Para isso, investiu-se em
educação. E a educação é a alavanca que desenvolve a China, em
todos os campos do poder nacional.
O campo político continua fechado. É a necessidade sentida
de controle dos movimentos sociais nascidos a partir da mudança
de paradigmas.
Id. em Dest., Rio de Janeiro, (20) : 42-48, jan./abr. 2006
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