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Severino Cabral<br />
A terceira tendência cada vez mais visível no horizonte internacional<br />
é o papel da Ásia do Leste como um dos pilares do mundo<br />
multipolar em gestação. O megadesenvolvimento da China (que já<br />
adquire a forma de um megaestado), da Coréia e do Japão transformou<br />
o mundo ásio-oriental na vanguarda do sistema internacional.<br />
Trata-se de uma região de importância cada vez maior no jogo de<br />
equilíbrio do poder mundial, mas que mantém focos de aguda tensão<br />
e instabilidade na península coreana e no estreito de Taiwan. Uma<br />
herança da época da confrontação, essa realidade ainda se faz sentir<br />
como pesada hipoteca sobre os ombros da sociedade asiática. Ao<br />
fazer prolongar a divisão da Coréia, um país e um povo com uma<br />
História tão rica e cultura multimilenar, essa realidade determina que<br />
se irradiem efeitos negativos – como o demonstra a grave crise<br />
desencadeada pela decisão norte-coreana de se dotar de uma certa<br />
capacidade nuclear – para a paz e o desenvolvimento da região e do<br />
mundo. Daí porque a reunificação da grande nação coreana, congelada<br />
num cessar-fogo inalterado, se encontra hoje no centro de um<br />
debate sobre o futuro do sistema internacional, cuja estrutura geral<br />
começa a esboçar-se neste início de século e de milênio.<br />
Como quarta tendência, é possível constatar a ressurgência das<br />
civilizações afetadas em seu destino histórico pelo mundo euro-ocidental<br />
e pela ciência e técnica moderna. O mundo que assistiu, no<br />
pós-Segunda Guerra, ao processo de industrialização e assimilação<br />
da técnica e da ciência, despertou importantes forças irradiantes e<br />
insurgentes com a descolonização da África, da Ásia e do mundo<br />
árabe-muçulmano. Este último fenômeno, sinalizado pela ressurgência<br />
do Islamismo como protagonista da cena internacional, tem impressionado<br />
observadores de todo o mundo, a ponto de ser interpretado<br />
como o desafio maior do pós-Guerra Fria.<br />
Mas uma quinta e importante tendência pode também ser vista<br />
a influenciar de forma decisiva a configuração do mundo de amanhã.<br />
Trata-se da emergência do mundo latino, cujo protagonismo possível<br />
encontra no futuro megaestado brasileiro seu principal ator. Embora<br />
a Europa meridional seja parte fundadora do mundo latino, o emergente<br />
bloco deverá reunir, sobretudo, o conjunto dos países da América<br />
Latina. O novo mundo latino-americano integrará uma grande<br />
área econômica capaz de impulsionar a criação de uma nova ordem<br />
mundial multipolar.<br />
Id. em Dest., Rio de Janeiro, (<strong>20</strong>) : 37-41, jan./abr. <strong>20</strong>06<br />
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