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Severino Cabral<br />
mundial de poder estará apoiada na economia dos países cujas iniciais<br />
formam o acróstico: Brasil, Rússia, Índia e China. Esses países,<br />
mais os Estados Unidos e o Japão, se situariam no topo do<br />
sistema mundial de poder. Curiosamente, a União Européia ficou<br />
de fora desta relação. O que significa que em Londres não se deseja<br />
muito ou não se visualiza bem a península ocidental da Eurásia<br />
como megapoder estatal. De qualquer modo, o curioso relatório serviu<br />
para atrair a atenção para a existência de macrotendências do sistema<br />
mundial, inauguradas com o fim da Guerra Fria, e que são<br />
pouco debatidas pelo público em geral.<br />
A primeira tendência que se anuncia é a de que só os grandes<br />
países do mundo de hoje, que sejam dotados de considerável espaço<br />
territorial, de população e de força econômica autônoma, podem<br />
aspirar a constituir um pólo de poder mundial. Neste sentido, a unidade<br />
e a integração européia servem de balizamento para o caminho<br />
das unidades políticas ativas do mundo contemporâneo: o seu<br />
êxito ou fracasso determinará a futura existência da Europa como<br />
centro mundial de poder. Como também é observável que os principais<br />
obstáculos no caminho dos BRIC para o topo da ordem mundial<br />
se relacionam à capacidade de cada um deles de manter, ampliar<br />
e até mesmo recuperar espaço, população e base econômica. Em<br />
suma, a característica principal do processo em curso, a contrario<br />
sensu da fragmentação da “primeira onda globalizante”, é<br />
a da constituição dos megaestados, que serão amanhã os sustentáculos<br />
da mundialização.<br />
A segunda e decorrente tendência é de que o ambiente internacional<br />
deverá ser profundamente alterado em relação ao que era ao<br />
final da Guerra Fria, sobretudo o sistema que sucedeu a bipolaridade,<br />
e que se denominou Nova Ordem Mundial. Acontecimentos como as<br />
duas guerras do Golfo e o incidente do 11 de setembro são sintomas<br />
da profunda e dramática instabilidade da ordem internacional gerada<br />
pela política de força de uma única potência. A superação desse<br />
estado de coisas será viabilizada pela emergência de uma nova ordem<br />
mundial mais democrática e mais legítima, baseada num novo<br />
equilíbrio de forças entre as nações. O advento de uma ordem<br />
multipolar será positivo para a criação de uma situação internacional<br />
menos tensa e mais direcionada para a elevação do nível de vida das<br />
populações do mundo em desenvolvimento.<br />
38 Id. em Dest., Rio de Janeiro, (<strong>20</strong>) : 37-41, jan./abr. <strong>20</strong>06