Ideias nº 20 - incaer

Dom Edson de Castro Homem
terra desde Henrique VIII e até no México. Nada se compara ao
totalitarismo de Estado nos regimes comunistas. As religiões, especialmente
o Catolicismo, foram subjugadas ao controle estatal. Cunhouse
a expressão: a Igreja na cortina de ferro. Muitos na China sofreram
o crime da lavagem cerebral para abdicarem de sua fé e de suas
convicções mais enraizadas. Inclusive os monges budistas sofreram
horrores, sobretudo os tibetanos. O Comunismo não prega a separação,
mas a absorção da Religião pelo Estado. O Fascismo e o Nazismo,
também ideologias do Estado forte e onipresente, igualmente criaram
grandes obstáculos às Igrejas que ousaram criticá-los. Por razões
de consciência moral e religiosa, muitos foram mortos nos campos
de concentração ao lado do extermínio dos judeus e dos homossexuais:
testemunhas de Jeová, luteranos e católicos. Por isso João
Paulo II chamou o século XX de século de mártires. Muitas pessoas
foram mortas por ódio à fé cristã ou à Religião em geral. O testemunho
dos mártires é o testemunho da verdade da consciência. Morresse
por aquilo em que se crê e de que não se pode abdicar. Aqui, neste
testemunho extremo, ela manifesta sua força de resistência moral.
Nos campos de concentração nazista, praticamente se iniciou o
ecumenismo prático, irmanados os prisioneiros pelo mesmo sofrimento.
Em meio aos horrores contava pouco a diferença religiosa. Os prisioneiros
sem nome se igualavam por serem apenas numerados e marcados
para morrer. Então se descobriram humanos demais na fraqueza,
na impotência e na dependência absoluta de forças tão hostis
e desagregadoras. Foi possível se unirem em torno de um Deus comum
e pessoal na fé do total abandono.
Historicamente, como movimento organizado, o ecumenismo
começa entre os evangélicos diante da fragmentação de tantas comunidades
eclesiais. A Igreja Católica sempre teve dificuldade de
entrar oficialmente quando convidada ao Conselho Mundial das Igrejas,
em Genebra. Participa como observadora. Com a reviravolta do
Concílio Vaticano II, não só aceitou o ecumenismo, mas passou a
promovê-lo. Inclusive o diálogo com todas as religiões e com os ateus.
Surge, pois, uma nova era do relacionamento da Igreja Católica, no
século XX, com as diferenças, pelo diálogo com o pensamento moderno.
Não mais defesa e ataque, mas compreensão e conversação.
Entretanto, a modernidade como expressão filosófica e cultural já
chegava ao acaso. Deixa, porém, o saldo positivo da possibilidade do
32 Id. em Dest., Rio de Janeiro, (20) : 19-36, jan./abr. 2006