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Dom Edson de Castro Homem<br />
IV. A Religião para a Ordem Democrática<br />
Hobbes, Locke e Rousseau, embora divirjam quanto às características<br />
do Estado Moderno democrático, concordam na concepção<br />
de um contrato social como fundamento da sociedade organizada<br />
racionalmente. O poder não viria mais de Deus. Portanto,<br />
não passaria pela tutela da instância religiosa. Ele foi dessacralizado.<br />
Viria do povo, através das eleições. A posição de distância e de<br />
diferenciação religiosa permitiria tal assertiva. Na realidade, exigia<br />
uma nova presença da Religião na sociedade que fosse separada<br />
do Estado. Historicamente, foi bom para ambos, como sublinhamos<br />
acima. O Estado se libertou da tutela religiosa. A Igreja se emancipou<br />
da tutela estatal. A pacificação dos espíritos se deu no sentido<br />
de que novas relações foram estabelecidas, não sem conflitos, entre<br />
os defensores da autonomia de ambas as instituições. A propósito,<br />
a Igreja em cada Estado moderno tem sua história peculiar de<br />
harmonia e de confronto. O fruto da ordem democrática foi de cooperação<br />
e de respeito mútuo, guardando as respectivas instâncias<br />
de poder e as atribuições funcionais.<br />
A Religião católica contribuiu, ainda que indiretamente, como<br />
já vimos, para este novo estado de coisas nas disputas entre o cetro<br />
e o báculo, especialmente pela posição singular do poder papal. Entretanto,<br />
coube a Lutero, através da proposta separatista entre fé e<br />
razão e a ruptura com o papado, apressar a nova mentalidade emergente<br />
e em termos novos em que o poder do Papa é excluído. Sem<br />
ter previsto e mesmo desejado seu livre exame da Bíblia em<br />
contraposição ao magistério da Igreja Católica, favoreceu dois aspectos<br />
da autonomia que caracterizariam a modernidade: a liberdade<br />
do indivíduo e o Liberalismo econômico. Também ensejou a separação<br />
entre a Igreja e o Estado, bem como os ideais republicanos.<br />
De fato, o Luteranismo, quando põe a Bíblia na mão do povo,<br />
estimula de algum modo não só a alfabetização das pessoas, o que<br />
já seria um fato socialmente relevante, mas também propicia a progressiva<br />
participação popular que somente os republicanos inaugurariam<br />
pela implantação do regime democrático, a escola pública e<br />
o acesso de todos à educação.<br />
Outros afirmam que o Protestantismo incentivou a prevalência<br />
do Estado sobre a Religião cristã, a despeito de suas reconhecidas<br />
Id. em Dest., Rio de Janeiro, (<strong>20</strong>) : 19-36, jan./abr. <strong>20</strong>06<br />
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