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Dom Edson de Castro Homem<br />
simbologia religiosa, dando-lhe nova leitura a partir do lugar de destaque<br />
no seu exército. A nova Religião passava a ter uma função<br />
legitimadora do Império.<br />
Com efeito, aos poucos a cruz estaria presente em todos os<br />
lugares públicos. Não só nos altares. Desta forma, começava uma<br />
nova ordem de relação simbólica e efetiva entre a Igreja, organizando-se<br />
no Império, e o Estado que se reorganizava também diante do<br />
novo poder religioso emergente. Inaugurava igualmente o Catolicismo<br />
guerreiro que de início será de defesa e depois, diante das conquistas<br />
muçulmanas, tornar-se-á um Catolicismo de reconquista.<br />
Santo Agostinho daria à cristandade emergente os elementos<br />
para pensar e construir a realidade sócio-política em tempo de paz e<br />
de guerra. De um lado definiria a paz como tranqüilidade da ordem,<br />
de outro insistiria na ordem a ser defendida. Daí, a noção de guerra<br />
justa ou de legítima defesa a exigir a manutenção e a modernização<br />
dos exércitos, mesmo em tempo de paz e em regime de cristandade.<br />
O Brasil Colônia conheceu a simbologia e a interpretação religiosa<br />
nas lutas entre portugueses e índios. Os santos protetores<br />
foram considerados, muitas vezes, santos guerreiros em favor da<br />
Coroa Portuguesa. A Religião possuía a função de também expandir<br />
o império português com seu projeto de colonização. Anglicanos<br />
e protestantes fizeram o mesmo nas colônias inglesas e holandesas<br />
contra a idolatria e a superstição, em nome da pureza evangélica,<br />
no intuito da conquista.<br />
Durante a modernidade houve guerras de Religião, no interior<br />
do Cristianismo dividido após a Reforma, com episódios deploráveis<br />
entre reformados, anglicanos e católicos, cujos motivos eram mais da<br />
ordem da Política e da Economia que propriamente da fé. No entanto,<br />
eminentes pensadores políticos do Liberalismo e do Iluminismo,<br />
apesar da contestação do poder temporal da Igreja, talvez até devido<br />
a tal indisposição, contribuíram para a tolerância religiosa e até a boa<br />
convivência, a prazo longo, e após muitos conflitos, como fruto da<br />
razão e da Democracia, segundo os ideais da Revolução Americana<br />
e da Revolução Francesa, esta nem um pouco tolerante, apesar do<br />
seu lema de igualdade, liberdade e fraternidade, que não deixa de ter<br />
inspiração cristã. A atitude de tolerância voltará com outro nome<br />
quando abordarmos a nova função dialógica da Religião. Trata-se de<br />
diálogo religioso e de ecumenismo.<br />
26 Id. em Dest., Rio de Janeiro, (<strong>20</strong>) : 19-36, jan./abr. <strong>20</strong>06