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Ideias nº 20 - incaer

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Dom Edson de Castro Homem<br />

dos inimigos por um lado e justificador, por outro, de interesses políticos<br />

e econômicos a serem conquistados.<br />

A forma do sucesso está no convencimento do discurso<br />

demonológico contra o outro, apontado a serviço do diabo simbólico.<br />

Muitas vezes, o confronto se dá no interior da própria Cultura<br />

religiosa quando grupos sectários, cismáticos ou heréticos<br />

desestabilizam o tecido social. Muitas vezes, as novas religiões surgem<br />

destes movimentos separatistas. Neste caso, as religiões tendem<br />

a se exorcizarem reciprocamente e a “caçar bruxas”. Tratase<br />

da função social de canalizar simbolicamente o percentual de<br />

não adaptação que gera conflito até à violência, e que existe em<br />

qualquer sociedade. É uma função que hoje consideramos deplorável,<br />

e que as análises sócio-políticas da Religião na modernidade<br />

nos ajudaram a perceber e a discernir.<br />

Na perspectiva da psicologia das massas e dos exércitos, a<br />

Religião e a religiosidade podem adquirir a função de dar sentido de<br />

bondade e de justiça à luta ou ao conflito social até à guerra como<br />

confronto radical. A modernidade indicou essa função que, certamente,<br />

o teólogo chamaria de patologia. Inclusive os poderes político<br />

e militar, mesmo quando não se trata de estado de guerra com teor<br />

religioso, podem servir-se da religiosidade popular, através de símbolos<br />

ou de orações ou da invocação do nome de Deus como ideologia<br />

justificadora ou encorajadora do conflito. Ao final, Deus se põe do<br />

lado dos vitoriosos, nunca dos vencidos. A Idade Média, baseando-se<br />

nas Escrituras, resolvia o dilema através do conceito de flagelo de<br />

Deus. Os vencidos pelos inimigos de Deus receberiam a derrota como<br />

castigo por faltas cometidas para retomar o processo penitencial purificador:<br />

Pecamos, Senhor, misericórdia!<br />

A Bíblia faz uma teologia quase sempre narrativa da guerra e da<br />

paz. No Antigo Testamento isto é muito claro. Mais ainda no Alcorão.<br />

Até porque o homem religioso precisa de explicações para conviver com<br />

ambos os aspectos de sua existência. O próprio pacifismo do Cristo e<br />

dos primeiros cristãos foi veiculado com expressões de combate, ainda<br />

que espiritual. Paulo chama o cristão não só de atleta, mas de soldado ou<br />

combatente. Entretanto, o pacifismo inicial durou pouco. Constantino<br />

escolheu a cruz como símbolo do exército: Com este sinal vencerás.<br />

Hoje soa como ideologização o fato de ele ter instrumentalizado o mais<br />

sagrado símbolo cristão. No entanto, ele soube inculturar a recente<br />

Id. em Dest., Rio de Janeiro, (<strong>20</strong>) : 19-36, jan./abr. <strong>20</strong>06<br />

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