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Dom Edson de Castro Homem<br />
dos inimigos por um lado e justificador, por outro, de interesses políticos<br />
e econômicos a serem conquistados.<br />
A forma do sucesso está no convencimento do discurso<br />
demonológico contra o outro, apontado a serviço do diabo simbólico.<br />
Muitas vezes, o confronto se dá no interior da própria Cultura<br />
religiosa quando grupos sectários, cismáticos ou heréticos<br />
desestabilizam o tecido social. Muitas vezes, as novas religiões surgem<br />
destes movimentos separatistas. Neste caso, as religiões tendem<br />
a se exorcizarem reciprocamente e a “caçar bruxas”. Tratase<br />
da função social de canalizar simbolicamente o percentual de<br />
não adaptação que gera conflito até à violência, e que existe em<br />
qualquer sociedade. É uma função que hoje consideramos deplorável,<br />
e que as análises sócio-políticas da Religião na modernidade<br />
nos ajudaram a perceber e a discernir.<br />
Na perspectiva da psicologia das massas e dos exércitos, a<br />
Religião e a religiosidade podem adquirir a função de dar sentido de<br />
bondade e de justiça à luta ou ao conflito social até à guerra como<br />
confronto radical. A modernidade indicou essa função que, certamente,<br />
o teólogo chamaria de patologia. Inclusive os poderes político<br />
e militar, mesmo quando não se trata de estado de guerra com teor<br />
religioso, podem servir-se da religiosidade popular, através de símbolos<br />
ou de orações ou da invocação do nome de Deus como ideologia<br />
justificadora ou encorajadora do conflito. Ao final, Deus se põe do<br />
lado dos vitoriosos, nunca dos vencidos. A Idade Média, baseando-se<br />
nas Escrituras, resolvia o dilema através do conceito de flagelo de<br />
Deus. Os vencidos pelos inimigos de Deus receberiam a derrota como<br />
castigo por faltas cometidas para retomar o processo penitencial purificador:<br />
Pecamos, Senhor, misericórdia!<br />
A Bíblia faz uma teologia quase sempre narrativa da guerra e da<br />
paz. No Antigo Testamento isto é muito claro. Mais ainda no Alcorão.<br />
Até porque o homem religioso precisa de explicações para conviver com<br />
ambos os aspectos de sua existência. O próprio pacifismo do Cristo e<br />
dos primeiros cristãos foi veiculado com expressões de combate, ainda<br />
que espiritual. Paulo chama o cristão não só de atleta, mas de soldado ou<br />
combatente. Entretanto, o pacifismo inicial durou pouco. Constantino<br />
escolheu a cruz como símbolo do exército: Com este sinal vencerás.<br />
Hoje soa como ideologização o fato de ele ter instrumentalizado o mais<br />
sagrado símbolo cristão. No entanto, ele soube inculturar a recente<br />
Id. em Dest., Rio de Janeiro, (<strong>20</strong>) : 19-36, jan./abr. <strong>20</strong>06<br />
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